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Local: Paraíba/Rio de Janeiro, Brazil

quarta-feira, julho 26, 2006

A TEATRALIDADE DO MUNDO


Antes de iniciar o texto, um esclarecimento quanto ao termo teatralidade: tomo o termo com o significado de algo estrondoso. Aliás, não é bem esse o sinônimo que eu queria dar. Talvez chamativo, ou quem sabe artificial. Bem, talvez seja melhor começar logo o texto, um outro sinônimo mais fiel aparecerá, assim espero.
Tive a idéia de falar sobre a teatralidade do mundo após assistir ao filme “Superman – O Retorno” (podem rir, não tem problema, sou fã mesmo, desde criança). Críticas a parte, o filme é a pura representação do mundo teatral no qual vivemos hoje.
Dentre as muitas cenas que deixa isso bem claro, cito a primeira, que marca o retorno propriamente dito do super-herói. Nela, Superman salva um avião que vem caindo em parafuso (adivinhem quem está nele? Lois Lane, claro) e “estaciona” a aeronave no campo de um estádio de basebol, lotado, em pleno jogo. Depois do feito, a imagem do herói norte-americano é então estampada na tela do estádio, e em todas as televisões dos Estados Unidos. Uma salva de palmas recebe o herói depois de cinco anos de ausência (tempo em que passou fora da terra, na busca de seu planeta, já destruído). E a imagem, a meu ver ridícula e até patética, do Superman dando um “alozinho” para todos, mostra o quanto o filme é teatral, e o quanto reflete o mundo de hoje.
Façamos uma comparação com o filme “Superman I” (filmado em fins da década de 70). Na primeira cena de aparição do super-herói, Lois Lane está num helicóptero em vias de despencar do terraço do prédio do Planeta Diário. O salvamento se dá sob os olhares do público, mas à distância, lá embaixo. Superman, após segurar a aeronave com uma das mãos, leva-a para o próprio terraço do prédio, longe do público, no qual há apenas ele próprio, Lois Lane, e três ou quatro funcionários, que prestam a primeira assistência a ela e ao piloto desmaiado.
Essa necessidade de querer aparecer, de ser chamativo, estrondoso, TEATRAL, é própria do mundo pós-moderno. Nas artes, acontece de forma semelhante: veja a arquitetura, por exemplo. Ela está voltada para chamar a atenção do público. Formas alongadas e incomuns, cores, acessórios chamativos, luz em demasia, brilho intenso (Observe o prédio da Honda, perto do hospital de trauma). Como se fosse uma pessoa a gritar, numa espécie de palco, para todo mundo ouvir: Ei, eu estou aqui!!!Olhem para mim!!! Vejam como sou bonito.
Se você já se sentiu atuando como tal, não se envergonhe, pois ninguém está imune à influência e à apelação dessa atitude teatral diante do mundo. Essa coisa forçosa de se destacar em meio a tanta coisa parecida, igual, é puro ato reflexo. A entrada triunfal, o “gran finale”, as frases feitas e de efeito, tudo isso é o arsenal que se tem para se causar estrondo.
A era pós-moderna em que vivemos, creio, é uma fase de transição (que venham as críticas). Quando essa atitude teatral tornar-se o comum, o corriqueiro, o usual, o lugar-comum, e por que não dizer cansativa, será iniciada a mudança para um outro paradigma, que creio não estar muito longe, pois já causa uma certa angústia toda essa apoteose. Ótimo, achei o sinônimo o qual buscava tanto para a tal teatralidade do mundo: vivemos numa Apoteose.

segunda-feira, julho 17, 2006

asdfg

Estive por uns dias fora do mundo virtual... Ou melhor, estive sem tempo de me dedicar às leituras, e-mail’s e comentários em blogs. Durante esse período, tive que me contentar com rápidos comentários via orkut, e só. Por outro lado, liguei o computador todos os dias para elaborar os trabalhos de final de semestre (o mais longo da minha vida!).
Por isso, fiquei de fora das discussões sobre o texto anterior, mas o assunto não me saiu da cabeça a semana inteira, pois eu mesma estava incomodada por estar ausente, não somente pelo blog, mas simplesmente pela mania de ficar navegando por aí.
Hoje, não dá pra negar a importância da Internet. Muito menos dos computadores. Até na cidade onde mora minha avó (que é tão pequena, mas tão pequena, que nem a praça na frente da Igreja existe) o pessoal passa horas na frente do computador (que é um só, se não me engano).
Como é de práxis, computadores e impressoras sempre dão problemas quando mais precisamos. Até parece um complô. Tive alguns embates com eles essa semana, e em alguns momentos cheguei a pensar em entregar os trabalhos escritos à mão. Por acaso alguém ainda lembra de momentos assim? Tenho impressão que fazer calos nas mãos de tanto escrever está fora de moda. A onda agora é LER-dort (não é, Jô?).
Lembro que a coisa mais chique do mundo, quando ainda estava na escola, era entregar os trabalhos datilografados... (asdfg asdfg asdfg... o que será que foi feito do Instituto Padre Zé?) Uns anos depois, veio o computador, e com ele etiquetas personalizadas, faixas de “Feliz Aniversário” impressas em papel contínuo, e, heresia das heresias, as cartas pessoais digitadas!
Puxa... como era gostoso receber cartas! Eu era viciada nelas. Tanto em receber como em enviar. Eu mandava cartas até pra minha vizinha, depois que descobri que, se eu escrevesse “carta social” no verso do envelope, o custo de envio era de 0,01 centavo... Todos os meus amigos conheciam a minha letra. E me conheciam muito bem também.
Uma das minhas amigas, a mais chique de todas, já tinha computador, e me mandava cartas imensas digitadas, com cartões feitos em casa na própria impressora matricial, pelo menos duas vezes por mês. Naquele tempo, ninguém tinha computador, muito menos Internet, e ainda assim a gente se comunicava sem parar. Tenho tudo guardado em casa até hoje. E olha que já faz um bom par de anos.
Não demorou muito tempo para que todo mundo estivesse digitalizado. O problema é que agora a maioria das comunicações também é virtual, no pior sentido da palavra. Talvez por conta dos modelos sociais que seguimos tão cegamente, como Léo comentou no texto anterior.
Na internet, temos muitos amigos, novos ou antigos. O cool é ser popular. Tal e qual aquela safra de filmes americanos que passam na sessão da tarde. Não estou falando de todo mundo, mas já ouvi muita gente se sentindo o máximo porque tem mais de 200 "amigos" adicionados no orkut.
Aliás, como bem disse Léo, o orkut nos possibilitou que amigos de épocas passadas nos vejam virtualmente todos os dias, se quiserem. O problema é que nem sempre esse retorno é verdadeiro. Tem gente que me adicionou, me manda mensagens de "bom dia" toda semana, mas quando me vê por aí não fala comigo.
Já os e-mails, antes de tudo, e sobretudo, facilitam magnificamente a comunicação. Mas não têm o mesmo tom das cartas. E elas foram aposentadas por conta deles. Talvez seja saudosismo, mas não sinto a mesma coisa quando recebo um e-mail. Ainda mais quando ele não é para mim. Sabe de uma coisa? Estou cansada de receber “forward”.
Um texto escrito à mão tem o cheiro, a cor do momento em que foi escrito... Carrega muito mais sensações. Hoje ninguém mais conhece minha letra. Lembra daquela minha amiga que me mandava duas cartas por mês? Desapareceu tem quase dois meses, e não conseguimos mais nos falar. Acho que ela nem sabe meu telefone. Afinal de contas, eu também não sei o dela.

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Em tempo 1: Léo, esse texto é para você. Tenho certeza que ainda escreveremos muito um para o outro.

Em tempo 2: Falando com Roncalli, percebi que esse texto passava uma idéia de que eu tinha uma visão negativa acerca da internet. Queria dizer que não é bem assim. Afinal de contas, aqui estou eu me utilizando dela para dizer o que penso. Sei que é importante a dita "democratização" das informações. Só questiono a atitude, muitas vezes imatura, das pessoas diante de tudo que encontram no mundo virtual. Volto ao meu mantra: falta conscientização.

quinta-feira, julho 06, 2006

ORKUTANDO A VIDA


Toda semana é sempre a mesma coisa: surpreendo-me com um amigo se queixando que o Orkut dele foi invadido; outro teve o perfil clonado; outro teve as fotos copiadas; outro recebe mensagens pornográficas; (...) São tantas as reclamações!!! Há até casos de relacionamentos duradouros abalados desde o advento do Orkut!!!
Esta semana um amigo me comunicou sua saída do Orkut, outros já haviam feito isso, “Preservar a privacidade” justificam-se eles. Inquieto-me: Parece que o Homem tornou-se, ou sempre foi, vítima do seu próprio exibicionismo histórico.
Meu amigo justificou que estava numa nova fase, vivendo um novo romance e aquilo seria uma prova de amor. Enfim, não quero julgar “a forma de amar” de ninguém (quem sou eu para faze-lo?), mas fico inquieto também ao ver estes rompantes de “amor” que apenas reafirmam certas inseguranças interiores. “A evolução não dá saltos”, ouvi certa vez, e transformar-se em outro para “provar” amor não me parece lógico (se é que há lógica no amor).
Mas enfim, sucumbi à onda do “scrap lido, scrap apagado”, como uma forma de ter privacidade. Alguns amigos relutam quanto a isso e mantêm seus recados à mostra. Confesso que “chatear os imbecis”, às vezes, me cansa. E cedi!!!
No Orkut tudo parece falso – todo mundo é modelo! Artista! –, afinal estamos no campo do mundo virtual, não é mesmo? Será? Onde se encontra o limite entre o irreal e o real? Pelas minhas inquietações acima, parece que a cada dia nós estamos perdidos diante de tal pergunta. O virtual, antigamente de forma sorrateira, hoje escrachadamente, adentra nosso mundo real. Há limites entre esses dois mundos? Vivemos numa MATRIX, como sugerem os irmãos cineastas?
Lembro-me, ao pensar nesses assuntos, das máscaras sociais historicamente, e necessariamente, usadas por nós, para inserirmo-nos em cada situação cotidiana. Somos atores! Já afirmou um poema. O Orkut (e seus filhotes) parece tensionar isso ao máximo!
Jean Baudrillard, inspirador da trilogia Matrix, alerta que “tudo é efeito especial”, os significantes nunca estiveram tão perdidos e distantes de seus significados quanto no momento contemporâneo. Simulacros e Simulações (olha as máscaras novamente) governam o mundo!!! Assim, somos quem queremos ou quem podemos ser???
As questões agora parecem ser: Como podemos ser Humanos perante a ascensão incontrolável da tecnologia? Como usar o livre arbítrio, dado a nós desde o princípio de tudo, de forma “certa”?
Por trás do virtual há sempre um ser humano “real”, ou não?
Quanto a mim, fiz alguns amigos – contados nos dedos, claro! – que pularam do mundo virtual para o mundo real, sem que para isso fizéssemos qualquer força, tudo “naturalmente”. Por eles, e por mim, não pretendo deixar o Orkut, e nem me abster de brincar no mundo virtual da minha realidade enquanto “pessoa”.
Parece que os olhos do cão Argos (simbolicamente tomado aqui como parte desta engrenagem que compõe o universo virtual) observa-nos constantemente e isso nos aterroriza. Toda esse desnudamento do ser é assustador.
Madonna já gritava – anos 80/90: “Strike a pose”
Completo com o jargão: “Sorria, Você Está Sendo Filmado!!!”