Viva a (Des)Poesia Sim Não
Mudando um pouco de assunto, sempre me pergunto o porquê de haver um dia específico pra quase tudo. Talvez porque numa sociedade cada vez mais informada, porém cada vez menos instruída e mais desmemoriada como a nossa, tais datas sirvam para a gente não esquecer que pessoas e situações importantes aconteceram (acontecem). Triste não?
Hoje, 14 de março, por exemplo, é o dia da poesia, dia importante para nós que lidamos com a arte da palavra todos os dias, em nossas salas de aula.
Eu queria escrever um texto exaltando o “poder” da poesia, através de teorias e exemplos. Dizer que desde pequeno lia poemas embevecido, mas a verdade é que, quase não tínhamos livros em casa, meus pais não eram (isso mudou) muito afeitos à leitura, e não tive incentivo na escola. No colégio de freiras, onde estudei por 11 anos, as limitações impostas pela moral religiosa, na hora de analisar os poemas, mutilava-os. Tive que “correr por fora”.
Eu queria falar sobre a qualidade(?) das aulas de poesia de hoje. Quando vou dar aula e entrego poemas aos alunos, no mais das vezes, ouço resmungos, fico triste, mas estimulado a mostrá-los que poesia (e arte no geral) não é algo “chato” e distante da realidade de ninguém, ninguém mesmo (hajam vistas as transformações, até mesmo de consciência política e social, realizadas por algumas ONG’s através da arte. No entanto, são situações sempre tidas como periféricas(?) e exceções(?).
Ainda mais difícil que isso, seria conseguir escrever um texto definindo a poesia. São tantos teóricos, poetas, formas, meios e o diabo a quatro, que, mesmo nós que trabalhamos com poesia, ficamos perdidos. Mas acredito que a palavra certa seja exatamente trabalho.
Toda poesia é difícil, tem uma gramática e uma singularidade própria, até porque, conforme Chklovski, a poesia é a singularização dos objetos; já para Augusto de Campos, dentre outras coisas, “poesia é risco”; para Cohen, é desvio; é ainda (trans)piração, para outros; e etc e tal... Pois, se para Bernardo Vilhena “a palavra precisa lança o som à velocidade da luz”, para Arnaldo Antunes, um dos melhores, mais complexos e completos artista do nosso tempo, é “o ouro da palavra, um acidente”.
Foram (são) muitas as transformações (de forma e conteúdo) ao longo do tempo, como a própria evolução(?) do homem. Por exemplo, enquanto Castro Alves - aliás o dia da poesia se confunde com o dia do seu nascimento – exaltava uma “severa Musa, Musa libérrima, audaz”, no Romantismo, Caetano Veloso canta hoje a “musa híbrida, de olho verde e carapinha cúprica.
Acredito que a poesia, entre muitas outras possíveis definições, serve para “lançar mundos no mundo” (Caetano Veloso), mas também para mostrar o óbvio diluído no liquidificador da vida louca vida, como os lúcidos versos “O todo sem a parte não é todo / a parte sem o todo não é parte”, de Gregório de Matos. Há questão mais atual, em tempos de uma vida líquida como a nossa?
É... Na sociedade capitalista, tecnologista e informativa em que vivemos, cada vez mais entendo porque razão Platão expulsou o artista da República.
Por fim, como também sei “que a poesia está para a prosa, assim como o amor está para a amizade”, quero deixar para vocês, meus amigos queridos, de quem estou cheio de saudades, esta frase (ou seria um verso?) do Guimarães Rosa, com esta imagem surrupiada do álbum de Tiago+:
Eu queria escrever um texto exaltando o “poder” da poesia, através de teorias e exemplos. Dizer que desde pequeno lia poemas embevecido, mas a verdade é que, quase não tínhamos livros em casa, meus pais não eram (isso mudou) muito afeitos à leitura, e não tive incentivo na escola. No colégio de freiras, onde estudei por 11 anos, as limitações impostas pela moral religiosa, na hora de analisar os poemas, mutilava-os. Tive que “correr por fora”.
Eu queria falar sobre a qualidade(?) das aulas de poesia de hoje. Quando vou dar aula e entrego poemas aos alunos, no mais das vezes, ouço resmungos, fico triste, mas estimulado a mostrá-los que poesia (e arte no geral) não é algo “chato” e distante da realidade de ninguém, ninguém mesmo (hajam vistas as transformações, até mesmo de consciência política e social, realizadas por algumas ONG’s através da arte. No entanto, são situações sempre tidas como periféricas(?) e exceções(?).
Ainda mais difícil que isso, seria conseguir escrever um texto definindo a poesia. São tantos teóricos, poetas, formas, meios e o diabo a quatro, que, mesmo nós que trabalhamos com poesia, ficamos perdidos. Mas acredito que a palavra certa seja exatamente trabalho.
Toda poesia é difícil, tem uma gramática e uma singularidade própria, até porque, conforme Chklovski, a poesia é a singularização dos objetos; já para Augusto de Campos, dentre outras coisas, “poesia é risco”; para Cohen, é desvio; é ainda (trans)piração, para outros; e etc e tal... Pois, se para Bernardo Vilhena “a palavra precisa lança o som à velocidade da luz”, para Arnaldo Antunes, um dos melhores, mais complexos e completos artista do nosso tempo, é “o ouro da palavra, um acidente”.
Foram (são) muitas as transformações (de forma e conteúdo) ao longo do tempo, como a própria evolução(?) do homem. Por exemplo, enquanto Castro Alves - aliás o dia da poesia se confunde com o dia do seu nascimento – exaltava uma “severa Musa, Musa libérrima, audaz”, no Romantismo, Caetano Veloso canta hoje a “musa híbrida, de olho verde e carapinha cúprica.
Acredito que a poesia, entre muitas outras possíveis definições, serve para “lançar mundos no mundo” (Caetano Veloso), mas também para mostrar o óbvio diluído no liquidificador da vida louca vida, como os lúcidos versos “O todo sem a parte não é todo / a parte sem o todo não é parte”, de Gregório de Matos. Há questão mais atual, em tempos de uma vida líquida como a nossa?
É... Na sociedade capitalista, tecnologista e informativa em que vivemos, cada vez mais entendo porque razão Platão expulsou o artista da República.
Por fim, como também sei “que a poesia está para a prosa, assim como o amor está para a amizade”, quero deixar para vocês, meus amigos queridos, de quem estou cheio de saudades, esta frase (ou seria um verso?) do Guimarães Rosa, com esta imagem surrupiada do álbum de Tiago+: