TRANSITAR

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Local: Paraíba/Rio de Janeiro, Brazil

terça-feira, maio 22, 2007

VAIVOLTANDO


Confesso que precisei do mundo. Tive que, por fim da força, abandonar um mundo alternativo que havia criado como último refúgio de uma vida que não dava certo. Para mim, os livros me bastariam. Escrever me bastaria. Nada! Um dia pensei comigo qual a utilidade da literatura. A contradição de estar vivendo, e fazendo, algo que julgava não-útil foi bomba atômica no quintal de minha casa, que ruiu, em parte – e o que havia sobrado eu mesmo me encarreguei de derrubar.
Arrumei emprego, fui estudar pra concursos. E embebido nesta verdadeira onda (ideal de vida segura, dinheiro certo fim do mês), pensei ter achado o “útil” em mim no mundo, afinal, “a gente espera do mundo e o mundo espera de nós”. É essa coisa de busca incessante que se aguça nos meus momentos de crise existencial.
Transitei por esse mundo velho que se fez de novo, mas acabei como os românticos: saudade de um tempo passado, perdido. O pêndulo – metáfora do vai-e-vem dos estilos literários – se apossou de minha vida. Reparo – constato – que ainda não sei de minha utilidade no mundo, ainda não sei. E na verdade nem quero aqui solução: “eu dou plantão dos meus problemas que quero esquecer”.
Enfim, volto, sou de novo o eu que desejei tanto em tempos atrás, que sei, outras crises de utilidade me virão ainda mais tarde, mas não agora. Agora, espero compreensão, de mim mesmo pelo menos, a busca pelo trânsito. Voltei a ler com estilo e dor: Clarice Lispector. Ainda meio vacilante, perdendo os contornos escondidos nas palavras obscuras de sua literatura, nervoso por não compreender bem o que há por trás do dito. Como se estivesse parado em acostamento, torno ao engarrafamento desses tempos, à velocidade dos tempos hodiernos. Ao menos nisso acho que tenho em mim parte do que se diz pós-moderno.