TRANSITAR

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Local: Paraíba/Rio de Janeiro, Brazil

quinta-feira, abril 26, 2007

Contra a corrente, Só pra exercitar.

Não importa seguir a onda. Há que se entender o que a move. E esse é o grande problema da contemporaneidade. Estão muito presos a reconhecerem ondas e pegarem ondas, mas todas as ondas levam para o mesmo lugar: a praia. Mortos ou vivos, é para lá que os corpos vão, levados pelas ondas.” (Gilles Deleuze)

Estas palavras, citadas nalgum livro que li esta semana, fizeram-me lembrar que certa vez uma colega de trabalho me viu lendo um jornal daquela igreja famosa e ficou assustada, olhou pra mim e perguntou: “Você ta lendo isso?” “Por que?”. Sinceramente na hora não soube responder, apenas disse: “Me deram isso na rua e, assim como Santo Agostinho, acredito que devo ler de tudo para assim escolher o que melhor serve para mim”, rimos e a situação passou, mas aquilo nunca saiu de minha cabeça.
Gosto de transitar (para usar o verbo que dá nome a este blog) e tenho transitado bastante, seja por espaços externos, seja por espaços internos do meu Ser, sempre foi assim, mas aqui no Rio, talvez pelo distanciamento de muita coisa, e, ao mesmo tempo, pelo toque em algumas outras, isso tem se agravado. Pensando nisso, aliado à metáfora da onda de Deleuze, me inquietei.
Numa sociedade cada vez mais informada e menos instruída, é importante pensarmos como as coisas e os sentimentos estão sendo digeridos por nós. Será que sabemos realmente entender, compreender e dar o real valor aos acontecimentos ao nosso redor, quando o próprio significado de “valor” se dilui?
É cada fez mais difícil separar, se é que precisa separar, o joio do trigo, o que serve ou não para nós. Claro, o que serve para aquele momento específico, pois estamos em constante trânsito e num trânsito cada vez mais caótico e que exige prudência e esperteza exatas e pontuais. Além da disposição de respeito àqueles que agem diferente de nós.
Tudo acontece cada vez mais rápido e quero estar atento a fim de não correr o risco de ser pura e simplesmente mais um seguindo a onda. Não que devamos viver pesando e medindo a vida, mas, no mundo líquido nosso de cada dia, nesse espaço das indefinições, é preciso ter um mínimo de posicionamento e lucidez.
Nunca achei interessante uma vida plena de momentos, mas vazia de eternidades, ambos devem transitar de mãos dadas. Infelizmente, muitas vezes, por não estar atento ou por não ter a maturidade suficiente, nos deixamos levar e a vida passa inutilmente.
Sinto que desperta em mim o saber de que muito pouca coisa é realmente imperdível, por isso, saber preservá-las quando as encontro, e saber (re)significar as perdíveis, no turbilhão da existência, é uma tarefa toda particular, até porque
as experiências vividas através de nossos sentidos são dolorosamente individuais, quem dá sentido a tudo é cada um, individualmente.
É tão difícil falar, é tão difícil dizer coisas que não podem ser ditas, é tão silencioso, escreveu Clarice Lispector, numa de suas crônicas, e ainda: Estou terrivelmente lúcida.
Quero sim deixar a rua me levar, quero não saber o quanto a vida dura, quero brincar de eternidade agora, quero me descuidar para a felicidade estar sempre presente, quero experimentar tudo, como Agostinho, mas quero ser sempre lúcido, mesmo que seja terrível, pois, se transitar é preciso, absolver e reproduzir nem sempre é preciso!

11 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Interessante você ter citado o jornal daquela igreja, o Santo Agostinho e por fim Clarice, de sobreterônimo Lispector... Eu leio tudo o que tenho oportunidade, isso desde sempre, sempre que posso leio e de fato gosto do jornal da tal igreja - até como uma forma de ver a vida sob outro prisma - sem condenar ou absolver, no intento de refletir, absorvendo com o coração as supostas verdades que podem ser também as minhas. É a tal da leitura crítica, pois tudo o que for escrito conterá verdades e inverdades, com o tempo se encarregando de dizer o que vale e o que é viagem. E veja que interessante, ontem fui ao Museu da Lingua Portuguesa, que poderia chamar Brasileira, com uma amiga companhia perfeita para programas culturais, visitar a exposição de Clarice, por mim muito citada mas ainda assim uma ilustre desconhecida. Ainda não sei se gostei do que vi, visualmente falando esperava mais, valeu pela interação, mas achei muito fraca a seleção das citações, mas como selecionar textos curtos que prendam a atenção do público, num vasto conteúdo? Ainda mais agora que escrevo, e exponho minhas divagações, vejo o quanto dificil é essa tarefa. Pois as pessoas, mesmo as que como eu acreditam ter um mínimo de cultura, nunca se satisfazem, sempre querem mais. Até de Clarice. E tento resumir o que me marcou de duas falas dela: uma em que dizia que adoraria ser virgem em outros idiomas, talvez assim não tivesse poluído seus pensamentos na lingua portuguesa. E outra, onde dizia que a melhor forma de expressar, em palavras, tudo o que sente, era fazendo cafuné em seu cachorro, o único que da fato a compreendia... E vamos seguindo com as divagações, para a posteridade. Um abração, prazer estar aqui.

10:11 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Quero em primeiro pedir desculpas aos meus colegas de blog. Tenho estado muito ausente. Nestas duas ultimas semanas tenho retornado, em doses homeopáticas, ao mundo da literatura. Tenho lido com mais paciencia e atenção, e isso tem me dado praze, coisa que eu não estava encontrando ultimamente. Confesso que, dos ultimos textos desse blog, este li com mais respeito - o devido respeito que todos os textos de aqui merecem.

9:20 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Fico imaginando algum ser humano perdido no tempo, se lamentando por causa dos "tempos modernos", de que estão atropelando tudo, destruindo tudo, lá pra o fim do século XIX.
Talvez a nossa lamentação de hoje seja uma pura e simples resistência natural às mudanças. ´
E possível que daqui a cem anos algum ser humano consiga o eterno numa "vida plena de momentos". Não sei. Tenho um pé atrás sobre essas coisas de "hoje em dia não é mais como antigamente...".
Mas apesar de tudo, concordo com o que o autor do texto falou, só fico pensando se nossos valores valem para os "novos".

9:27 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Eu de novo. Só pra parabenizar Léo pelo texto. Texto bom é aquele em que, das várias vezes que se lê, algo novo surge.
A frase: "quem dá sentido a tudo é cada um", reflete exatamente o que penso sobre tudo. Não existe o certo ou o errado por essência - na verdade em quase tudo. Referindo-se ao comportamento humano, sim, a tudo. O extremo da individualização dos valores é algo, a meu ver, inalcançável, haverá sempre a uniformização.

6:09 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Só pra registrar, quando me usei o termo "igreja famosa", não quis ser pejorativo, muito por contrário, pois sei que a melhor religião é aquela que torna o ser humano melhor. Apenas quis fazer um contra-ponto com o que citei de Santo Agostinho, ok? (rsrs)

12:33 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Lendo este texto agora, com o distanciamento da feitura, percebo que ele ficou confuso.
Eu queria problematizar o quanto é solitário viver, mas, como sempre, viajei demais. (rsrs)

Como Jansen escreveu e que, acredito, se encontra com o pensamento do Tiago, cada um de nós está num momento infinitamente particular, por isso, julgar é cometer o maior erro. Acredito que o respeito a diversidade comece por aí. Mas, sim Jansen, acredito que sempre haverá algo sulgando-nos para a massificação dos sentimentos. Tenho medo disso, procuro fugir disso, confesso.

12:39 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Bom, Léo, quanto a sua opinião sobre seu texto, não concordo que ele ficou confuso. Como disse, texto bom é aquele que se renova a cada é leitura.

PS: é muito bom trocar idéia contigo novamente, irmão!

8:02 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Pois é, cara. Saudade grande demais da conta.
Mas, acredita que este texto tinha mais de tres páginas? Comecei a escrever e não parava, por isso acho que ficou confuso, pra mim, pois eliminei muita coisa, saca?

Abração, meu amigo-irmão do tempo.
Venham, você e Sílvia nos visitarem.

9:06 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Socorram-me. Fui publicar um texto e não sei se a senha foi modificada ou se eu esqueci. Léo ou Silvia, quem ver primeiro esta mensagem, mande-me a senha para que eu possa postar um texto.
Aguardo

5:35 PM  
Anonymous Anônimo disse...

pessoal, tenho tanto em vão postar, mas sem sucesso. Quando ponho a senha, dá o seguinte aviso:


Para acessar seus blogs, efetue login com sua conta do Google.

"O novo Blogger exige que você tenha uma conta do Google para acessar seus blogs.

Ainda não mudou? Efetue login usando a sua conta do Blogger antigo."

Quando então vou usar a conta do bloger antigo, continua dando erro. Siceramente, estou triste por não conseguir postar. Tenho o texto pronto há bem duas semanas. Aguardo qualquer luz.

abraço

9:01 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Incrivel como eu poderia ter escrito essas mesmas palavras, quase na mesma ordem.
Adoro ler coisas que traduzem o que eu tb penso.
No mais,
um beck te ajudaria a amar e compreender nosso mundo líquido..

1:25 AM  

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