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terça-feira, janeiro 09, 2007

Meus mitos



Eu vi a Monalisa. Bem de pertinho. A Vênus de Milo. A Vitória da Samotrácia. Vi também o quadro de Gericault que Gombrich comenta no início do seu livro sobre história da arte (A barca da Medusa). Vi a torre Eiffel, a catedral de Notre-Dame. O rio Sena em dia de chuva. O cinza da cidade-luz durante o inverno. E eu nem sabia que ia gostar tanto de ver aquilo tudo.
Logo eu, que sempre neguei os mitos, o ser fã, o admirar, estava ali como uma boba, sem nem sentir o frio inv(f)ernal que fazia, a chuva intermitente que teimava em cair toda vez que saía à rua ou que pensava em fotografar algo.
Tentei entender o que me acontecia. De onde vinha aquele sentimento bobo. Era mentalidade de colonizado? Cabeça alienada pela mídia? Afinal de contas, os mitos são reais?
Quando entrei na sala em que está aquela que é a pintura mais famosa do mundo, e sabendo que essa fama é uma pura questão midiática (andei estudando isso nas poucas aulas de futuro que tenho por aqui), me senti meio lesa em parar para observar. Era como se estivesse no altar de um falso deus.
Mas ela me hipnotizou. Ela é pura história. Assim como todo o resto da cidade. Assim como todo o resto do mundo. E a história do mundo é também a minha história.
Acho que é isso. O cinza dos últimos dias vai ser lembrado como multicolorido.

5 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

NOSSA!!!
Que depoimento apaixonado, minha rainha!
Fico feliz por voce ter se permitido viver tais maravilhosos momentos sem se deixar barrar pelos preconceitos acadêmicos.
A vida e a arte, sejam elas supermidiáticas ou não, servem mesmo para colorir nossos dias cinzas.
Fico muito feliz com tua (re)descoberta disso.
Saudade!

9:08 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Na minha opinião, este foi o melhor texto feito aqui neste blog. Dá uma discussão imensa!! Como nos velhos tempos e nos velhos objetivos deste blog...
Na minha opinião pouco avaliada e de supetão, assim, sem profundidade (espero ainda aprofunda-la mais) é que é mente de colonizado acrescido de valor histórico. Nào que eu esteja criticando Silvia, não, pelo contrário, a alguém que exprime um sentimento da maneira como ela o fez neste texto, é mais do que um elogio.
O ser humano atribui valor às coisas. Esses valores estão constituídos numa escala definida sabe lá por quem!!!
to be continued...

11:16 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Silvia
passei por esta experiência também alguns anos atrás. Só que tive que disputar a tapa com meia centena de japoneses excitadíssimos um lugarzinho para poder ver a Gioconda por alguns segundos.
Mas não era isso que queria falar. Na verdade é de uma outra experiência, também de encontro com uma obra de arte mitológica. Isto é, nem tão mitólogica assim. Foi no Metropolitan de N.Y. Estava percorrendo aquelas intermináveis salas com paredes cobertas de obras de arte (90% européias, e quase todas de certa forma roubadas) quando entrei em uma sala onde havia tantos retratos que chegava a ter 3 num espaço só. Explico: como as paredes são altas, ficavam uns acima dos outros, até o teto. Típica demonstração burra de opulência que sequer permite o desfrute da obra (a que ficava mais alta estava a quase 5 metros do chão). Mas nessa sala, após passar pela porta que dava acesso a ela, não sei porque, me voltei e olhei para o umbral. Meus olhos foram como que puxados para cima, e encontraram uma figura que me fez verter uma lágrima. Era uma recordação de infância. De repente vi meu primeiro livro de História na minha frente. Era o único retrato conhecido de Cristóvão Colombo. Ali, perdido numa sala com dezenas de outros quadros, pendurado por cima de uma porta, local mais improvável para se procurar algo. Pois lá estava: a única representação de época do homem que descobriu aquela terra. Se é que eles se lembram disso. Mas fiquei um tempo perdido nas lembranças de escola, e nas quantas vezes ainda vi aquela imagem por todos os anos de estudo.
Falei isso tudo apenas para colocar a questão da memória afetiva. Foi isso o que mais me atingiu (e fundo) nas cidades e, principalmente, museus de Paris e Londres (únicas cidades da Europa que conheço) e N.Y.
Mais do que reverência às obras e cenários míticos, o que meu coração mais ficou tocado foi reencontrar imagens que representaram em algum ponto lá atrás, descobertas e deslumbres, e originaram sonhos que foram sendo desmontados a medida que tempo se encarregou de aumentar meu senso crítico.
É bom sentir essa sensação nostálgica.
Aproveite.

11:37 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Já é a terceira vez que tento comentar os comentários, espero que agora vá... :)

Bom...
Concordo com vc, Carlos, com relação a essa questão da memória afetiva. É interessante como invocamos pessoas, lugares, livros do passado quando encontramos com coisas que carregam uma aura que vai um pouco mais além do que são realmente.
(não sei se é o caso da Monalisa... hehehe Parece que ela hipnotiza mesmo, por si...)

Outra coisa é a mentalidade de colonizado... tudo bem que a colonizaçao tbm faz/fez parte da nossa história, mas eu sinto que precisamos entender o sentimento e deixar certos comportamentos (não sei se essa é a palavra) de lado...
Muitas vezes converso com meus amigos daí, e pelo simples fato de que estou na 'zOropa' todo mundo me chama de chique. Não é bem assim...

É como diz Jânsen... Quem será que atribui o valor de cada coisa??? E mais: Por que continuamos espalhando os mesmos valores sem tentar entender de onde vêm???

Acho que era isso...

Beijos...

7:40 PM  
Anonymous Anônimo disse...

É inegável o valor artístico de uma obra como a Monalisa, óbvio, dentro dos padrões estéticos que foram estabelecidos ao longo da história da humanidade ocidental.
Acho importantíssimo o que Silvia disse: "entender o sentimento e deixar certos comportamentos". O que uma obra de arte faz no interior do ser humano é o mais importante na arte, mais do que toda e qualquer idéia preconcebida ou conceito colado de outrem, pelo menos para mim. A questão é o como e por que acontece esse "tocar" da alma de um ser humano.
Talvez Silvia tenha se deslumbrado com a Gioconda por que possuía todo um arcabouço de informações e idéias sobre tal pintura. Um leigo, talvez - eu disse, talvez - que não sabe tudo o que está por trás desse quadro, ao vê-lo, nem se emocione tanto. Pode ser que seja uma questão de padrões. Ou não. heheheh!!!

11:21 PM  

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