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sexta-feira, janeiro 19, 2007

CONDICIONAMENTO LITERÁRIO

Esses dias têm sido de imensa dedicação ao estudo do Direito. Sim. Estou numa área completamente fora daquela à qual me dediquei por cinco anos com prazer indizível. Pura necessidade. Um emprego estável: sonho de qualquer pessoa. Rendimentos certos ao fim do mês. Penso que este será meu trampolim para outras pretensões.
Há um bom tempo – que não sei precisar com exatidão – percebi que não consigo escrever mais nada, pelo menos com o entusiasmo de antes: nem contos, poesias, o que seja (até para esse blog, escrever tá sendo duro). Não por que eu não queira mais escrever, longe disso. Mas eu entendo o porquê disso tudo: respondo perguntando: por que vocês acham que um grande poeta não conseguiu ser um grande romancista? E o contrário?
A resposta é a seguinte: condicionamento. Um corredor de cem metros rasos nunca – eu digo e afirmo: nunca! – vai vencer um corredor de maratona numa maratona. Lembro-me que quando eu estava numa fase de intensa produção de contos (produção em quantidade, porém nenhuma implicação na qualidade) em tudo, ou quase tudo, eu via um conto. Situações do dia-a-dia, um simples olhar, um pouco de imaginação, jogava tudo dentro dos padrões que eu tinha em minha mente do que era um conto – padrões abalados após o contato com a obra de Dalton Trevisan – e saía uma estória. Apareceram até alguns bons resultados, e estes eu os guardei... noutras vezes, percebendo aonde iam dar, encerrava antes de terminá-las, mas o que valia era o exercício contínuo de mexer com os ingredientes do conto. Eu adorava isso! Mas perdi um pouco do prazer quando eles começaram a ficar muito parecidos uns com os outros. E tive de me afastar – por esse motivo e por outros, inclusive o que mencionei no começo desse texto.
Sou muito fatalista. Todo mundo reclama de mim por causa disso. Acredito, algumas vezes, em destino traçado; noutras creio que nós é que o fazemos. No momento, creio que... ah!, deixa pra lá, não quero ser fatalista. Não tenho medo do que o destino ou o desenrolar aleatório das coisas da vida me trouxer. Meu medo é o de que meu condicionamento literário esteja se perdendo nesse meio tempo de fôlego, ou descanso, ou seja lá o que esse tempo afastado das letras for e significar. Talvez, quando eu voltar de novo a escrever, meu condicionamento já não seja mais o mesmo. Tenho medo de não conseguir mais voltar ao que eu um dia estabeleci como meta em minha vida. Disso eu tenho medo. O ser humano se acostuma com tudo, até com a mediocridade.

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Oi, Jânsen...
Por muito tempo, eu tentei guiar a minha vida com mão firme... Descobri que isso não é possível... hehe
Não sei até que ponto o deixar de lado por um tempo o hábito de escrever pode te retirar a habilidade que tens...
Nos acostumamos com tudo sim, mas não perdemos a identidade. Se vc gosta, onde quer que esteja trabalhando, ou qualquer que seja a atividade que esteja exercendo, vc vai terminar se destacando pela escrita, e, seguramente, arrumando uma forma de seguir fazendo do escrever literariamente uma parte importante da tua vida.
Um abração!!!

7:20 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Meu amigo, aprendi e estou aprendendo (concordo com a Silvia) que o melhor mesmo é deixar a vida seguir seu curso.
É duro e doi, às vezes, mas não tem outro jeito de ser.

Quanto a escrita, voce sabe que todo, indistintamente todos, escritos, e artistas em geral, passam por momentos assim. Aproveita pra se aprender mais, ler mais... e assim, quando "voltar" a ativa, as coisas fluam cheias de novidades.
Também já entrei nessa de "Nunca vou escrever algo assim", diante de um texto de alguem que admiro, mas isso é nóia de gente perfeccionista como nós, né?

Abração

4:42 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Quanto ao que Silvia disse, não sei bem. Quando a gente se afasta de uma coisa, perde os "cacoetes", as "manhas", alguma coisa é perdida.
O problema, léo, é que eu não tenho tido mais contato com mais nenhuma obra literária. Tenho medo até de me acostumar a não gostar mais delas, sei lá, a vida prática leva a isso (a velha pergunta: em que isso vai me ajudar?).
Enfim, estou deixando a vida me levar, mas não posso ser um barco a deriva. Tenho que ligar o motor e decdir para onde quero ir.

6:26 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Jansen, certamente que "deixar a vida seguir seu curso", não significa "ser um barco a deriva". Pelo contrário, não podemos, nem devemos, perder de vista nossos paradigmas e objetivos, e, acredito, são exatemente tais pontos que nos fazem "ligar o motor e decdir para onde quero ir", mas sem deixar a vida pesar mais do que ela já é pesada, entende?
Saudade, meu caro.
Abraço

3:49 PM  

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