TRANSITAR

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Local: Paraíba/Rio de Janeiro, Brazil

quinta-feira, agosto 10, 2006

Carnavalização e respeito

Domingo passado, aqui em João Pessoa, fui a uma passeata pelo orgulho gay. Para mim, que não sou homossexual, mas que tenho muitos e grandes amigos (e amigas) que são, significava uma forma de demonstrar o meu respeito pelo movimento.
Admiro muito a coragem e a ousadia que os homossexuais têm de enfrentar a sociedade, tão recheada de preconceitos, para obter o seu espaço (profissional, intelectual, cotidiano). Se essa conquista já é difícil para os que se enquadram nos perfis previamente estabelecidos, imagina para aqueles que têm mais essa barreira para enfrentar...
Mas uma coisa me incomodou muito aquele dia: a falta de respeito que os próprios participantes do movimento têm por si mesmos, ao se fazerem risíveis diante das pessoas que ali estavam para acompanhar a festa.
Não sei se por causa da minha criação, muito tradicional e recheada (de excessos) de seriedade, nunca me acostumei com a idéia de que as pessoas se façam piada diante dos demais. Ainda mais quando estão envolvidas questões tão sérias como a luta por respeito dentro das relações sociais.
Gostaria muito de saber até que ponto esses movimentos são importantes para a aquisição de respeito para as pessoas que pretendem representar. Eu tenho a suspeita de que estão errando na dose.
Carnavalizar a vida é muito bom. Mas não isso não pode gerar a criação de estereótipos. Ouvi coisas absurdas do pessoal que estava assistindo, principalmente de grupos de homens que estavam lá somente para criticar. Me senti agredida. Acho que as pessoas para quem aquelas frases se dirigiam também se sentiram assim, mas fingiram não se importar. O problema está em que, em alguns momentos, a reação dos "agredidos" era se fazerem ainda mais caricatos. É realmente essa a estratégia a ser tomada?
Tenho impressão que, além de alimentar os motivos que dão início às críticas dos que não se importam com o movimento, essas atitudes provocam também entre os próprios homossexuais a criação de um gueto. Uma auto-exclusão. E a partir de agressão fantasiada de carnavalização.
Explico o que disse: a auto-afirmação a partir da imposição dos estereótipos invade também os espaços sociais onde se exige um outro tipo de conduta, por parte de qualquer cidadão, seja ele homo, hetero, branco, negro, homem ou mulher. Ouvi em certo momento o locutor de um trio incentivando os casais a fazerem um "boquete" na areia da praia. Ora... estávamos em Tambaú. Famílias inteiras estavam freqüentando a praia... Não creio que o desrespeito com os demais seja a forma indicada para conseguir respeito.
Acho que o segredo é se fazer digno, é respeitar a si mesmo e aos demais. E pronto. O respeito da sociedade vem como conseqüência.

30 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Em tempo: Esse final de semana estarei sem acesso à net. Somente poderei ver os comentários (viu, Léo?) na segunda... hehehe
Abraços!

1:26 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Já que hoje ainda é sexta-feira, pelo menos ainda dará pra você ver meu comentário, Silvia (Ou sexta-feira já é fim de semana?).
Bom, sendo ou não sendo, lá vai.
Primeiramente, parabenizo Silvia pelo excelente texto, de uma primorosa organização e concatenação de idéias.
Segundamente: Acho que nem todas as pessoas envolvidas numa parada gay (ou a maioria) tem a noção exata da força do movimento, não tem a percepção ideológica do movimento, buscam apenas uma maneira de extra-vazar seus conteúdos, que são recheados de preconceitos para com a sociedade. Sim, preconceitos (por que estes só podem vir das maiorias, e não das minorias?)

9:08 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Vejo que muitos dos que participam destes movimentos utilizam-nos apenas para a prática, em público, de atos imorais (que não podem ser estereotipados como sendo dos homosexuais, o que nessa parada ocorreu), deturpando a noção de combatividade dos preconceitos sociais contra os homossexuais.
A luta, se se quer respeito dos outros, deve ser exatamente como Silvia diz: "respeitar a si mesmo e aos demais. E pronto. O respeito da sociedade vem como conseqüência.".

9:16 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Particularmente, sempre fui contra as ditas "Paradas gays", no entanto, lendo e relendo meus proprios conceitos de vida, passei a aceitar.
Porém, acredito, concordando com a Sílvia, que falta consciência ideológica entre aqueles que pedem conscientização pela diversidade.
A própria idéia de diversidade se perde em meio a tantas e quantas apelações por meio daqueles que urgem por ela. Digo isso sobre todos os movimentos das "minorias".
Acredito que a luta deve vir com exemplos de respeito mútuo, não apenas com a imposição unilateral de idéias, como já ocorre historicamente.
Defendo e entendo a Parada, como momento de confraternização, seja por metas já alcançadas, seja por metas a ser serem alcançadas, senão caímos no clássico "Panis et circencis".

9:52 AM  
Anonymous Anônimo disse...

O que está ocorrendo é que, infelizmente, as Paradas e Passeatas Gays, inicialmente e verdadeiramente munidas de conteúdos sócio-cultural-ideológicos, viraram comércio e motivo de ridicularização.
Sei que há uma parcela de culpa da mídia, pois quando são apresentadas as imagens das Paradas, na TV e etc, apenas os gays mais "efeminados" e "fechosos" têm vez. Claro é a reificação do estereotipo!!!
Vejam bem, não sou contra, muito pelo contrário, Deus me livre de o se-lo, o comportamento de ninguém, mas se estamos tratando de DIVERSIDADE, cada ela?
As vezes, fica parecendo aquelas imagens de um circo chegando nas cidades do interior. aiai

10:02 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Vejam bem, sou a favor a Parada Gay, mas a exemplos daquelas que ocorrem na Europa (Sonho meu!), em que são efetivamente discutidos assuntos que venham a enriquecer a inclusão social e plena do indivíduo homoeroticamente inclinado.
Tenho um colega editor em Curitiba, que tentou levar seus livros e propôs palestras e debates nas Paradas do Rio e Sampa, sabe o que aconteceu? Simplesmente não obteve apoio nenhum da organização dos eventos. Levando-me a conclusão de que a Festa é mais importante, não?
Eu adoraria ir a Parada de sampa, principalmente, não sei se por apelos midiáticos, mas gosto das imagens daquele evento.
Pena, pena mesmo que tudo seja sempre engolido pelo capitalismo esmagador!

10:10 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Silvia diz, e Jânsen re-afirmou: "respeitar a si mesmo e aos demais. E pronto. O respeito da sociedade vem como conseqüência.".
O problemas é que nós (humanos) somos imediatistas. Esse respeito virá muito lentamente e aqueles que gritam por "justiça" não podem nem querem esperar. E aí, meus caros, vale qualquer tipo de artifício.
Agora, os tais "grupos de homens que estavam lá somente para criticar" precisam repensar sua própria sexualidade, sem dúvida! Talvez o espelho freudiano esteja na base de tais críticas.
Sei que o pessoal na Parada apela mesmo, muitos acham (tadinhos) que impor respeito é gritar, quando a postura individual parece ter muito mais significado e promover transformações coletivas, pelo menos historicamente percebemos isso, mas nada justifica o agredir!

10:34 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Seu texto fala de coisas pertinentes e tem muita coerência, porém creio que vale mudar um pouquinho o ponto de observação em que você estava, assistindo a parada.
Incomodou o fato dos participantes se fazerem risíveis de si mesmos? Bom, o incomodo já é um ponto positivo.
Você lembra aquela divisa da comédia: "Castigat ridendo mores"? O riso é a forma de crítica mais incisiva. Cirúrgica, eu diria.
E não fosse apenas isso - que já é bastante - lembro a você que a carnavalização é um estado de espírito muito caro aos gays. A leitura contínua do mundo às avessas, a parodização, a inversão (que por muito tempo foi a palavra usada como sinônimo de homossexualidade), tudo isso faz parte do cotidiano de pessoas que, para simplesmente sair de casa e viver sua realidade, têm que matar um leão todos os dias da sua vida. E devemos agradecer que a opção pela diferença seja feita pela via do humor. Muito pior são opções de vida que se expressam de forma triste, pesada ou até mesmo violenta.
Outro detalhe curioso: a maneira como chamam uns aos outros. Anos atrás (que por sinal é uma expressão típica para uma leitura sob a ótica carnavalizada do universo gay) lí uma explicação de um lider de movimento de minorias sexuais (nunca gostei do termo, enfim...) que dizia que a utilização dos termos "viado", "bicha", etc, entre os próprios, era uma forma de desgastá-los de sua carga negativa, tornando-os, pelo uso intenso, até mesmo carinhosos. Algo semelhante ao que se fez com os termos relacionados à raça. "Meu nego", "neguinha", etc.
De qualquer forma, e voltando ao início, é preciso ressaltar que a idéia não é integração no sentido de assimilar os valores e os formatos. Eles não cabem. É preciso repensar certos conceitos de conduta de cidadão. Que cidadão é esse? Quem montou essas regulamento?
Soa meio ridículo querer adaptar padrões heteros (que os próprios heteros questionam) aos homos. Faz lembrar os patéticos movimentos gay republicanos dos USA e os hilariantes contorcionismos cerebrais que seus militantes tem que fazer pra tentar (sem sucesso, óbvio!) dar coerência ao discurso.
Sinto muito pelo tanto que chocou você, mas as rupturas sempre chocam. Só que em arte, por exemplo, é mais fácil digerir.
Na vida real o buraco é mais embaixo (sem trocadilho, por favor, hehehe).
Outra coisa: não leve tudo tão a sério.
Abraços.

11:24 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Complementando pois não tinha lido os post do Leo.
Volto a máxima: "Castigat ridendo mores".
Os Secos e Molhados fizeram mais pela visibilidade (me recuso a usar a palavra "aceitação" porque não é absolutamente o que se quer) do que tudo que possa ter sido escrito, falado, discutido por movimentos gays, etc.
Sem qualquer desmerecimento pelo que foi e continua sendo feito pelos grupos. Mas é inegável que as ações que expõe a cara alegre ou paródica (se preferir) do gay tem uma efetividade muito maior junto ao cidadão comum. E, pode ser que isso surpreenda, não acho que aquele tipo de exposição "novela das oito", onde dois jovenzinhos, lindos de morrer, com aparência masculina e irretocável, se declaram gays, seja tenha o valor de uma parada gay onde se encontra pessoas comuns, estéticamente diferentes, comportamentalmente diferentes, com discursos diferentes, querendo apenas não ser ignoradas.
Pode parecer exagero, mas acho mesmo que exista uma cultura, no sentido amplo do termo, gay. E tal como os índios brasileiros, ou os tibetanos, devem ter direito a agir e pensar de forma diferente.
Assim como não queremos índios de paletó, não há porque desejar a uniformização pela integração. A integração nesse caso é sinônimo de diluição, de desaparecer no meio do massa.
O gueto, sob certos aspectos, é necessário. E o gueto gay é um open-house, todos são bem vindos.

PS pro Leo: Sampa teve muitos eventos interessantes de discussão pré-parada, pena que foram durante a semana e não pude participar. Ainda assim deu pra participar de coisas legais (feira, lançamento de livro, etc).

12:02 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Mais um complemento. Eu costumo escrever no Bloco de Notas e depois é que transfiro pra janela do blog pra postar, mas, não sei porque algumas coisas não foram.
Acho que ficou meio sem sentido a menção apenas aos Secos e Molhados. Na verdade era uma lista grande: Dzi Croquetes, Edy Star, Serguei. E no exterior: Elton John, Alice Cooper, Iggy Pop, David Bowie, Kiss, todo o "glam rock" (ou "glitter rock") dos anos 70. E nos 80, Queen, Culture Club e dezenas de outros.
Enfim, toda uma série de grupos (não só de música) e personalidades que ousaram colocar uma cara na rua que não era o modelo comum, e sequer tinha parâmetros de comparação.
O interessante, aliás, é que em todas as vezes que isso aconteceu na história de nossa civilização (?), a resposta foi imediata e sempre positiva. Lembremos Josephine Baker, Carmem Miranda, Elvis, entre outros. Parece que estamos sempre esperando por alguem que venha fazer em nosso lugar o que desejamos secretamente.
E, curiosamente, a maioria dos exemplos acima sempre atuaram sob o signo da alegria.

2:32 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Bacana o texto, meio sério demais, mas ainda assim bacana. Acontece que muitas pessoas, felizmente uma minoria homossexual, se usa da caricatura como forma de defesa ! POde ter certeza que para cada gay caricaturado, se fazendo de imbecil para uma minoria careta, existem pelo menos umas dezenas de gays sérios que também se incomodam com eles. Mas tem espaço para todos nesse nosso planeta lindo. Beijos !

9:44 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Essa questão de "diversidade" e ter "espaço para todos" é algo bastante delicado. Vejam bem, não sou contra a diversidade, e acredito que se tenha espaço para muitos, talvez não todos.
Explico: a diversidade deve existir se ela não vier a agredir pessoas, seja fisicamente falando, seja espiritualmente (há falta de um termo melhor). Pois, se aceitássemos tudo, teríamos que aceitar também os neo-nazistas, (um exemplo absurdo, mas que serve para mostrar o cuidado que se deve ter quando se fala em aceitar tudo).
Como disse, é uma questão delicada, vai tocar no ponto das convenções sociais e cair no campo da subjetividade, o que abre margem para muitas perspectivas.
Assim reafirmo: é uma questão muito delicada.
Mas aproveito para dizer: Respeito os homosexuais, aliás, nem devia dizer isso, por que, para mim, são pessoas iguais a mim, sem defeitos (idéia que as convenções sociais tantam passar). Apoio a diversidade, se ela for fundamentada na felicidade e respeito ao próximo. Eu não ficaria feliz, nem aceitaria, se estivesse com meu filho numa parada gay e alguém de um carro de som disesse: "Vamos todos fazer um boquete na praia".

11:10 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Carlos, permita-me discordar de você no seu primeiro comentário. Quando se critíca algo pelo risível, este risível justamente vem a depor contra aquilo que está sendo objeto da crítica. Daí o feitiço virar contra o feiticeiro: Mostrar-se ridículo não é a saida, pois corrobora ainda mais com os estereótipos criados pelas ditas "covnenções sociais".
Se se quer criticar uma sociedade hipócrita, utiliza-se do riso justamente para mostrar como são falhos os parâmetros para julgar o comportamento homosexual.

11:21 PM  
Anonymous Anônimo disse...

bom, bom, é um tema que dá pano para manga...
li o texto e os comentários e gostaria de fazer alguns outros...

As paradas históricamente nascem nos anos 70 como momentos da comunidade expressar seus sentimentos, lutas e dar visibilidade aos seus anseios. Sempre tiveram caráter de luta e celebração. Assim que no Brasil tais movimentos começaram, também aqui tiveram estas mesmas características e a "carnavalização", a festa faz parte sim do movimento, desde sua nascente, é a parte de celebração do orgulho do que se é, mesmo que isto afronte conceitos e tradiçôes de uma sociedade preconceituosa.
Excessos? Sim, sempre tem, muitos ainda preferem agredir (caso citado sobre fazer "boquete" em plena praia), mas isto é minoria.
Durante os anos o movimento vem crescendo: cresce na participação, cresce no interesse, inclusive comercial, mas conscientização... acho que aqui está um pouco dos problemas das Paradas no Brasil: discussão política pífia, conscientização idem, interesse comercial acima de tudo.
Mesmo com seus problemas e contradições as paradas tem dado um salto importante na mobilização e visibilidade do movimento glbt, mas creio que as ong's que organizam estes eventos tem que dar um salto de qualidade e não fazer a Parada um momento estanque, muitas vezes preparado as pressas, sem uma discussão sobre os temas a serem defendidos, a organização de debates com toda a sociedade e ente outras iniciativas!

3:42 PM  
Anonymous Anônimo disse...

A Parada de São Paulo é uma excessão, além de ser a maior, tem hoje uma estrutura de discussão que dura o ano todo, tem eventos paralelos, etc, etc, tem também um monte de briga político partidária, mas isto é difícil de escapar quando se fala de um movimento de massa.
Para se ter uma idéia da diversidade de grupos que participam da parada em Sampa destaco alguns: grupos sado-masoquistas, ursos, portadores de necessidades especiais, inúmeros grupos religiosos (evangélicos, católicos, cultos afros, judeus), grupos familiares (pais que acompanham seus filhos e os apoiam e vice-versa), associações de travestis, de protistutas... e por aí vai... É um avanço, mas acho que pode melhorar, ainda há coisas a melhorar, por exemplo, mandei algumas propostas sobre uma série de debates envolvendo questões literárias e culturais no geral (Leo já comentou), mas ainda não houve muito interesse!
Mas, como disse acima, é uma excessão, outras paradas que conheço não tem este grau de organização.

3:48 PM  
Anonymous Anônimo disse...

discordo do Jânsen
Acho que vc faz algumas confusões quando se fala de diversidade.
Primeiro, ser homossexual ou hetero não é uma escolha, faz parte da natureza de cada um de nós, então respeitar a forma, o jeito de cada um, a forma DIVERSA como expressamos é sim uma luta fundamental.
As paradas são o espaço para se expressar todos aqueles que são rejeitados pela nossa sociedade: travestis, afetados, feios, michês, prostitutas, drags queens, transexuais, gays, bofes, sapatas, fetichistas e todas as formas diferentes do padrão dito normal que o ser humano se expressa.
As pessoas são o que são, você pode questionar sua formação, seu entendimento do mundo, você pode lutar para que todos tenham isto claro para si e para os outros, mas mudar a sua excência não dá! Diversidade é isto, por favor não confundir com posturas políticas que as pessoas tomam como ser nazista, racista, facista e outros istas! Estes sim, cada um escolhe, se posiciona do lado que melhor lhe convir.

4:04 PM  
Anonymous Anônimo disse...

por fim, concordo com o Carlos quando fala sobre outras formas de levar esta luta de respeito e integração: cultura é um bom instrumento, seja na música, no cinema, nos livros, nas artes em geral.
Cultura e educação é para onde devemos dirigir nossos esforços na formação de uma sociedade mais solidária e respeitosa com a diferenças.

4:08 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Sobre a carnavalização (tema bastante complexo que só me faz lembrar a definição de Bakhtin), e como aticei alguns ânimos (hehe), quero lembrar a dúvida do Paulo Francis: "Se esses caras (os gays) querem todos os direitos e deveres dos caretas como nós, qual é então a vantagem de ser viado?"
Subtraído os exageros e outras coisas mais, acho que é por aí, não podemos esquecer que, seja o erotismo, seja o sexo gay, o "viado" funciona e sempre funcionará uma transgressão à função clássica dos corpos: a reprodução.
Ou seja, a anormalidade do indivíduo homoeroticamente inclinado, pois esta é sua característica básica e primordial.

10:00 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Sobre o respeito:
A "bicha louca", com suas caricaturas auto-excludentes, sempre será mais "aceita", pois ela tranquiliza as angústias dos "normais".
Enquanto que o "gay sério" incomoda mais porque ele é "próximo" do normal.
Daí os risinhos sarcásticos nas salas de projeção do "Brokeback Mountain", filme em que dois personagens não pedem o aceite de ninguém para viverem o AMOR, sentimento que pode surgir de várias maneiras.

Por fim, querer que o gay tenha uma vida igual à vida "normal" e hétera é um erro, uma utopia burguesa e um abuso à "missão" transgressiva própria dos gays. Com isso não quero dizer que "vale tudo", respeito é bom vindo de todos os lados, mas quero apenas mostrar que, mesmo dentro do "mundo gay", se é que há mundos diversos, ou simplesmente diversidade dentro do mesmo mundo, existem várias possibilidades viver o homoerotismo, assim como há vários "tipos" de héteros".

Acredito que os gays não precisem da aceitação, mas do respeito mesmo, como bem colocou Sílvia. Respeito que certamente deve ser uma via de mão dupla.

10:17 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Marcos, concordo com tudo o que você falou. Mas a questão da diversidade, a meu ver, paira sobre posições políticas, sociais, e etc sim. Diversidade engloba tudo, diversidade de pensamento, de postura política, ideológica, partidária.
Diversidade está tanto na natureza quanto na escolha. Por exemplo, a participação nas chamadas "Tribos" são escolhas feitas durante a vida do indivíduo - ou não, podem ser impostas - e mostram a diversidade que há no mundo nos diferentes lugares sociais. É que as palavras são falhas, talvez estejamos até pensando a mesma coisa.
Talvez também que seja uma má definição minha, não sei, ocupo uma posição social no mundo, talvez eu seja apenas o reflexo de alguma ideologia.

11:17 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Legal, esse tema rendeu bem. Isso é muito bom. Diversidade passa também pelas opiniões.
Queria agradecer ao Leo pela lembrança da frase do Paulo Francis, que nunca teve vergonha de se assumir um reacionário, mas que tinha tanto brilhantismo intelectual que tornou obrigatório a quem estava do outro lado prestar atenção no que ele dizia.
E Francis, apesar de direitista, nunca foi intolerante. Ele se batia no campo das idéias, argumentando com inteligência, provocando seu interlocutor a ser mais bem preparado e brilhante que ele.
O nazismo, e os facismo de modo geral, não podem sequer ser considerados como exemplos de diversidade pois partem de um pressuposto de que não podem existir outras correntes ideológicas que não a deles. A se colocar a questão dessa forma, teríamos que incluir traficantes e assassinos como "exemplos de diversidade". Não é por aí.
Diversidade pressupõe direito à diferença, e à construção individual e/ou coletiva de identidades, e o diálogo permanente entre culturas, civilizações ou grupos sociais. O nazismo está definitivamente fora desta discussão.
Agora é importante lembrar uma coisa: só poderemos ter sucesso numa civilização que aceita a diversidade quando realmente se respeitar o diferente. Não faz sentido pregarmos isso e ao mesmo tempo repudiar os hábitos sexuais de uma tribo da Oceania que colidam frontalmente com os aceitos no ocidente, por exemplo. Isso sim é nazismo.
Tolerância é a palavra básica nessa história toda.

PS: A propósito, assistam "Café da Manhã em Plutão", do Neil Jordan. Uma ótima discussão acerca da tolerância em nossos tempos.

1:45 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Carlos, quando se tolera, apenas se concede, sem igualdade, mas superioridade.
Tolerar é aceitar e não acho que ninguém precise do aceite de outro para ser o que é, entende? eu sei que você concorda, apenas eu quis mudar um pouco o significado usado por voce.

4:38 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Leo: você tem toda razão. O conceito é bom, mas seu veículo, o vocábulo, realmente não é o mais apropriado, pois tem essa conotação indigna de concessão.
Ninguém precisa do aceite, mas é preciso algum tipo de entendimento entre os "diversos" para que haja a convivência democrática.
Qual o melhor nome para essa postura de "viva e deixe viver"? Não sei. Alguem se habilita?

5:47 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Estou de volta... Somente li os comentários agora, e acho desnecessário acrescentar alguma coisa, pois a discussão está andando por si...

De qualquer modo, queria explicar pro Carlos que em nenhum momento eu me incomodei com a alegria, com o humor. O meu incômodo foi gerado pelo apelo à vulgaridade que percebi em alguns momentos. Quando eu falei sobre as atitudes "risíveis" me referia a isso. Acho que errei no termo.

E mais... Eu estava na parada acompanhando o movimento, ou seja, eu também era um dos participantes. Não me coloquei como platéia... seria impossível não me contagiar pela energia... hehe

8:49 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Ah...
Como resposta à pergunta do Carlos no último comentário, reitero o que disse no texto... Acho que a palavra é respeito.

8:51 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Marcos... só para provocar, faço para você uma pergunta que já fiz ao Léo...
O que você entende por cultura?

hehehehehe

9:11 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Ainda acho que diversidade é diversidade. Mesmo algo que não permite a diversidade faz parte da diversidade. Não estou fazendo apologia ao Nazismo ou Facismo, ou seja lá o que for, longe disso.
Ladrões a assassinos são um tipo de divesidade.
Como diversidade é um substantivo, necessitaríamos de um adjetivo para explicar de qual diversidade falamos. Talvez esteja aí a confusão que estamos fazendo, Carlos.
Talvez eu tenha feito a confusão, pois falávamos de diversidade cultural e comportamental, não de diversidade ideológica ou social.
Não sei, ao que parece, você compreendeu-me mal ou eu não me expliquei bem. É por aí.

8:59 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Tolerar, aceitar... estamos travando uma batalha no campo da palavra, e vocês sabem, as palavras muitas vezes não exprimem realmente as coisas como se quer exprimir. Esse é um campo lamacento e movediço.
Talvez sejam sinônimos no contexto utilizado. Acho que aceitação é palavra que cabe sim. Tudo aquilo que está fora dos meus padrões necessita de minha aceitação para não cair na "condenação".
Não acredito que a humanidade vá chegar a um estágio do "viva e deixe viver". Haverá sempre alguém ou algo tentando se impor, é um cabo de guerra, infelizmente a vida é assim.

9:06 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Jansen, você está muito pessimista! É claro que se olharmos tudo friamente, através de uma análise histórica e científica, inevitavelmente concluiremos que a trajetória da civilização é rumo ao caos e a auto-destruição.
Mas, como somos um bando de seres imprevisíveis e nada científicos, sempre haverá esperança de mudanças nessa rota.
Enquanto isso, vamos fazendo nossa parte.
Vi uma vez um video de treinamento, daquele insuportáveis que obrigam os empregados das empresas a assistir, que tinha uma coisa muito legal no seu fecho.
Era uma cena numa praia onde milhares de estrelas do mar tinham amanhecido - por conta de uma ressaca - na areia. E cujo destino seria a morte certa debaixo do sol. Nesse instante aparece um rapaz que vai pegando, uma a uma, as estrelas e atirando-as de volta ao oceano. Aí surge um outro rapaz, com pinta de "sabe-tudo" e comenta: "Que trabalho inútil! São milhares de estrelas do mar, e isso não vai fazer a menor diferença!"
Ao que o outro rapaz, atirando mais uma estrela de volta ao oceano, responde: "Pra essa aqui vai fazer diferença!"
É meio por aí Jansen. E mantendo nossa discussão sobre diversidade no âmbito da cultura, em seu sentido mais amplo, eu acho que o garoto que ousa beijar outro no meio da rua não vai mudar o mundo, mas está fazendo a diferença. Da mesma forma, aqueles que transgridem, que fazem o contrário do que se espera, que procuram novas formas, novas saídas, também estão contribuindo. Porque talvez o ponto mais importante para a convivência das diversidades esteja exatamente na exposição, na visibilidade. Tudo que insiste em ficar oculto, nas sombras, será sempre "estranho", ou até mesmo "perigoso".
Todo mundo que é "diferente" corre um risco ao expor sua face. Mas só assim que o "diferente" vira "mais um", e pode viver em paz junto aos demais.

1:57 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Como eu sou bisbilhoteira, te achei na pagina do Tiago (orkut) e a curiosidade me fez cosquinhas...
Cheguei até aqui e adorei, vou estar sempre te visitando! Beijinhos

4:24 PM  

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