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Local: Paraíba/Rio de Janeiro, Brazil

quinta-feira, junho 29, 2006

AS FOGUEIRAS DE SÃO JOÃO

Tentei fugir do assunto, mas não deu. Mas não foi só o clima de São João não; não foi só isso não (quanto ‘ão’ numa só frase!!!). É que fico maravilhado com essa tradição (outro 'ão' de novo) de serem acesas fogueiras na noite de véspera de São João (e por que é que é na véspera?). Por quanto tempo não vem sendo repetido isso.
Se você for olhar direito, é incrível. Vou dar um exemplo que me levou a essa constatação: a maior festa popular do Brasil é o carnaval, todos concordam? Só que fico pensando que não há no carnaval um símbolo tão forte como o das fogueiras de São João.
Lembro-me que, quando criança, havia uma tradição de no carnaval se fazerem umas bombinhas (feitas de uns canos, junto com uma borracha e um pedaço de pau) que serviam para se encher de lama e jogar nos carros que passavam na rua. Hoje não mais isso – graças a Deus! Também havia um negócio de se melar os outros com pó, maizena, essas coisas brancas. Também se pode lembrar das fantasias; existem blocos carnavalescos que tentam resgatar essa tradição, mas, como o nome já diz, é um resgate, não é o que o “povão” tem feito. Não digo que não há mais essas coisas, pois; ainda acontecem uma vez ou outra, mas não com a força das fogueiras.
Aí fiquei analisando... Talvez por que as fogueiras têm uma forte simbologia religiosa, e o nordestino tem a religião praticamente no sangue. Ou talvez por que essa tradição seja uma prática das classes mais populares - já imaginou, um rico, todo no linho, se enchendo todo de fumaça?. Enfim, é de se ficar admirado vendo uma noite com cheiro de fumaça e uma névoa que faz a noite parecer de frio.
Logo me veio a lembrança de um assunto pelo qual transitamos há poucos dias: cultura brasileira. O que é? Será que se pode uniformizar a cultura de um país tão grande?
A cultura brasileira, ou aquilo que se quer proteger como sendo pura manifestação da cultura brasileira, é o que? Reformulando a pergunta e abrangendo mais o assunto: o que é preciso para que algo seja considerado como sendo parte da cultura brasileira?
É a questão do tempo? Aquilo que se perpetua então faz parte de uma cultura?
É a questão da qualidade estética?
Vou terminar o texto com uma paráfrase do título de um capítulo do Livro "Dialética da Colonização", de Alfredo Bosi, só para deixar mais interrogações: existe uma CULTURA BRASILEIRA E (ou) CULTURAS BRASILEIRAS?

22 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

pois é jansen
o fogo no são joão monopoliza. Faz convergir tudo em seu redor
o bate papo , as crianças acendendo os traques, peid'véa, cobrinha,chuvinha, vulcão, mijão.
os papocos das bombas em harmonia com o ronco dos sapo nalagoa feito zabumba conversando com a sanfona.
o cheiro de chuva misturado com a fragrancia pôde da póiva queimada.

o amarelin do milho
pomonha, magunzá, canjica...
mais o amarelão da fogueira


eu fiquei besta com a quantidade de fogueira aqui no poço.

um abraço pro trio

2:18 AM  
Anonymous Anônimo disse...

ahhh, eu estou atrasado nos comentários...
silvia, escrevi também lá no post do fé cega faca amolada
ta bom!

2:23 AM  
Anonymous Anônimo disse...

esse aí em cima fui eu
apertano os biloto errado acabei enviando como anônimo
foi mau

2:26 AM  
Anonymous Anônimo disse...

“O tempo não pára!”
Esta frase do poema-rebelde veio logo à mente enquanto lia o texto.
Concordo, bastante com você quanto à preocupação que devemos ter para mantermos acesa a chama de algumas tradições. Concordo mesmo! Há muita coisa diluída neste turbilhão neobarroco, no qual vivemos, que certamente sustentam nossa dignidade enquanto “Seres Humanos”.
No entanto, ao observar as pessoas que trabalham com a denominada “cultura popular”, percebo uma certa contradição em suas práticas.
Para essas pessoas, é fundamental e urgente “colocar num altar”, canonizar e mesmo petrificar determinadas manifestações culturais, mantendo-as longe do contato “perigoso” da “modernidade”. Porém, essas mesmas pessoas têm acesso, via internet, a todo tipo de “modernidade” e “avanços” do mundo.
Ou seja: “Você deve permanecer aí tocando seu pífano e sendo uma figura folclórica para gringo ver, enquanto eu posso viver adequado ao meu tempo e, de vez em quando, venho te prestigiar e ganhar dinheiro às tuas custas”

11:54 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Acho que, talvez não tenha sido claro no comentário anterior.
Como afirmei, concordo plenamente com as observações feitas, apenas quis pontuar minha indignação com pessoas que “defendem” a cultura popular, mas vivem noutra realidade. Não sei porque isso me veio à tona. Mas, é muito fácil exigir que o outro fique estático no tempo, enquanto eu corro atrás do futuro!
Nosso país plural, com várias culturas, senhor Bosi, tem a carnavalização como característica fundamental, e não falo dos quatro dias, mas de uma carnavalização contínua. Assim, o carnaval só poderia ser a marca maior. Essa fuga do ordinário, esse furor que beira a temor, faz-nos ter o país que temos.
Nossa cultura, enquanto nação, é formada por Zabé da Loca, mas tem também por Otto; não há opostos nesta minha comparação e sim convergências.

11:55 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Disdizendo o que eu disse antes, inquieto-me e pergunto:
É verdade que é mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro???!!!

Adorei saber, pois não sai de casa na véspera de São João, que nossa Jampa estava toda alumiada pelas inúmeras fogueiras. Confesso que a única que vi, foi através da foto que nossa rainha nos presenteou. Mas a fumaça... aiai... esta eu senti e aspirei
E como!!!!!
hehe

11:56 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Léo, é isso mesmo que penso. Mas, juro, não tenho uma opinião bem formada sobre essa coisa de cultura, por isso o texto. Acho que as coisas têm que continuar seu processo de "evolução", mas, ao mesmo tempo, me assusto com algumas modificações que, as vezes, destroem ao invés de renovar. Na verdade, penso que cada coisa tem seu lugar, e o fim das coisas é algo proprio do ser humano, e, por isso, da propria cultura.

10:47 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Outra coisa: acho o carnaval um traço fortíssimo da personalidade do Brasil; mas acho que as festas juninas exercem um fascínio maior no nordestino. Creio que as duas são festas populares de grande força na cultura nordestina, mas, não sei se por causa de minha personalidade, prefiro as Festas Juninas ao Carnaval, que, talvez por falta de melhor termo, associo sempre a "bagunça". Ah, sei lá!

10:50 PM  
Anonymous Anônimo disse...

hehehe
Ótimo, Jânsen, adorei o termo bagunça.
hehe
mas o Brail não é mesmo uma bagunça, misturando o mundo inteiro???
hehe
Nossa cultura é formada por muitas culturas, dái a carnavalização, no sentido Bakhtiniano, do qual falei.
Certamente, cada região desse mundão-brasilis tem marcas próprias e as "tradições juninas" é a nossa marca maior!

11:54 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Silvia, onde está você? Estás chorando pela desclassificação do Brasil na copa?

11:23 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Ixx... num dá pra demorar aqui... tive que ler o texto e mais dez comentários... hehehehehe

Bom... pensando sobre o assunto... (vai ser um loooongo comentário... vou dividir em dois... :P)

Antes de tudo, pra mim a força dessa época do ano é muito ligada ao fogo, como disse Roncalli. E o fogo marca muita presença, por isso não se perde a tradição da fogueira. No entanto, tenho visto cada vez menos fogueiras na cidade. Antigamente, tinha uma névoa sobre toda a cidade... esse ano percebi que eram áreas... Não sei se pessoas da nossa geração (tô ficando velha!) vão continuar com essa tradição.

E mais... o fogo tem a característica, assim como a água, de purificar. É usado pra renovar, pra deixar pra trás coisas que não queremos mais... Ou seja, é uma forma de liberar energia queimando coisas que estão pesando na nossa bagagem de vida.
E por isso a fogueira tem tanta atração pra mim...

12:29 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Pensando sobre cultura...

Pra mim, essa palavra tem muito a ver com a forma de vida de cada sociedade, desse modo, está constantemente sendo renovada.

Acho estranho qdo alguém fala em cultura popular e vincula às classes mais baixas, em geral a lugares onde a educação ainda não chegou efetivamente. Aí acontece o que Léo falou: são petrificadas algumas manifestações culturais, e, conseqüentemente, é petrificada também a situação em que vivem essas pessoas.
(ou pior: essas pessoas são vendidas, sua cultura é vendida. Tudo vira mercadoria pra gringo ver, ponto turístico, ou seja, carente de qualquer identidade)

A questão da preservação da cultura está ligada à identidade de um povo. Não se constrói/preserva identidade forçando as pessoas(através do dinheiro, ou seja, da necessidade de sobreviver) a manterem manifestações com as quais não se identificam mais.
Penso que a preservação se faz através da conscientização. E isso não se faz pelo dinheiro, mas pela educação.

12:43 PM  
Anonymous Anônimo disse...

... pensando sobre o tema proposto.


É interessante o assunto. Ligo a TV e vejo a manchete do JPB: “paraibanos mantêm a tradição”. E logo após mostram imagens de pessoas acendendo suas fogueiras em alguns bairros da cidade. Depois fiquei pensando sobre a reportagem: “mantêm a tradição”...
Me lembro do meu tempo de criança em Santa Rita. Quase todas as casas da rua acendiam uma fogueira. Parecia até que a cidade estava pegando fogo. Os vizinhos se reuniam na praça em frente de casa, montavam uma palhoça e cada um levava bebida e comida e era festa a noite toda. Lembro também que era uma sensação boa que eu sentia, realmente gostava daquilo. Só voltava pra casa quando estava completamente fedendo a fogueira. Hoje dois ou três gatos pingados “mantêm a tradição”.
Até quando? Até quando as próximas gerações acenderão suas fogueiras?
Cultura...
Sou obrigado a concordar novamente com a Silvia: ela vai se transformando, se renovando. Penso que nem sempre isso acontece de forma positiva. Não sei vocês, mas esse negócio de quadrilha de São João que mais parece quadrilha de carnaval pra mim não ta com nada. Cadê o matuto, porra? Daqui a pouco tem Pierrô e Colombina na quadrilha de São João.

Vixe... falei demais.

10:34 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Fabiano, gostei muito do seu comentário. Concordo no que você falou das quadrilhas. Mas não sei o quê me dá medo essa coisa destruidora que é o novo. É que me assusto muito com esse negócio de inovação, que sei, é a tendência, o caminho natural das coisas, o certo, mas não deixo de me assustar. É como sinônimo de morte para mim.
Sei também que algumas coisas são feitas para determinado tempo, e não se sustentam ao menor sinal de inovação.
Saber quais são estas coisas e onde se deve investir para inovar algo sem compromotê-lo, isso é que é difícil!

12:43 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Silvia, seria o caso de educar as pessoas e deixar as coisas andarem da maneira como têm de andar?
Talvez fosse perigoso. Sei lá, talvez fosse o certo.
É que essa história de povo me assusta, não vou mentir.
Fico pensando na situação da seleção brasileira de futebol. Tá certo, os caras perderam, não lutaram, mas será que por isso o povo tem o direito de escrachar alguns jogadores que já conquistaram até uma copa do mundo?
Como eu disse, esse negócio de povo me assusta!

12:51 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Fabiano: Talvez a coisa de continuar acendendo fogueiras esteja perdendo espaço por conta do discurso politicamente/ecologicamente correto... Será que não seria o caso da cidade inteira ter uma única fogueira? hehehe

Jânsen: Eu acredito, e pode ser algo utópico, que pessoas educadas reconhecem a própria identidade, e daí respeitariam o que fosse de valor para elas. A consciência traria também o respeito. (será?)

5:08 PM  
Anonymous Anônimo disse...

A consciencia sempre traz o respeito.
não sei se nesse caso e ainda mais num mundo como o nosso.
mas tenho esperanças.

5:23 PM  
Anonymous Anônimo disse...

É utopia, a meu ver, achar que o povo (considero o povo como uma espécie de entidade coletiva)um dia tomará consicência de alguma coisa.
A massa coletiva é burra, no sentido de que as forças conscientes internas se anulam. O povo vai ser sempre povo, não adianta.

11:22 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Bom... eu prefiro continuar na minha utopia. Senão, pra que estudar tanto, se não dá pra mudar a corrente das coisas? É muito mais fácil pular na corrente e deixar a onda levar...

Povo é sinônimo de massa manipulável porque não tem compreensão de nada. Eu faço parte do povo, e resisto a muita coisa que vem na intenção de manipular... em outras, eu caio feito um patinho...
A diferença é que eu tenho um suporte de educação que não me deixa afundar. E não me sinto mais especial do que ninguém por ter. Me sinto, sim, mais responsável.

Diante do mundo que temos pela frente, temos duas opções. Ou entrar na corrente, e fingir que não é conosco ("são os outros..."), ou tentar ser um referencial diferente.

Muita gente entende isso, e na hora de ser diferente vira "porra-louca" (com tudo que tem direito: drogas, não trabalha, reclama de tudo... esse exemplo a gente pode ver aos montes por aí...)

Acho que falta atitude e trabalho. Um mínimo que se faça, de maneira consciente, já é um grande avanço.

2:36 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Também sou massa, também sou povo. Mas quando estou na multidão. Todo mundo que faz parte de um grupo é povo.
Portanto, tenho atitudes de povo. Mas tenho atitudes individuais. É nessa dualidade que vivo, e acredito que todo mundo vive nessa dualidade.
A velha estória, "o que os outros vão falar" é verdadeira, sim, todos se importam com o que os outros vão falar. E isso baliza muitas ações, ações de todos nós: são as convenções sociais. Estas são a tal consciência coletiva.
continuo a dizer que ela é burra. É utopia achar que um dia todos vão tomar consciência de todas as coisas e o mundo vai melhorar. Digo isso por que tenho também meus preconceitos. Sempre vai haver preconceito e luta.

7:58 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Mas vejam, não considero a utopia um mal, é necessária, tenho as minhas e não dou, não vendo nem troco. Considerar que algo é utopia não significa desistir dela; significa ter uma maior compreensão daquilo com que se sonha.

8:01 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Certamente, "resistimos" a diversos apelos pelo olhar plural que temos, em relação a determinadas coisas. E cabe a nós, lutar e despertar!!! Ainda mais enquanto profissionais da Educação.
Estamos num contexto de fim das utopias. Tudo está exposto, até demais! No entanto, enquanto Seres Humanos, precisamos de ideologias, pra viver e continuar na luta, dando nossa melhor parcela de contribuição.
Sonhar sonhos impossíveis é estar vivo, nadando na ou contra a corrente.

8:53 AM  

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