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sexta-feira, agosto 04, 2006

Ideologia! Eu quero uma pra viver!


Pegando gancho no texto do Jânsen, quero contar que re-assisti, nestes dias, ao filme “Irmão sol, irmã lua” (1972), de Franco Zeffirelli e fiquei me questionando quem são, e se há, exemplos, como o de São Francisco de Assis, a serem seguidos, nos dias de hoje. Bom, para quem não assistiu ao filme: nele são apresentados a vida e os feitos de São Francisco de Assis e Santa Clara, almas gêmeas que viveram o amor ao jeito deles.
A cena mais impactante, sem dúvida, é aquela em que São Francisco se despoja das vestes (retratado por Cândido Portinari, nesta bela pintura), para viver uma vida humilde, toda voltada aos seus “irmãos”, tentando seguir a premissa do Cristo na sua mais íntima essência de sublime peregrino.
Vendo aquela atitude divina, fiquei pensando quantos não entendem ainda hoje a verdadeira mensagem do Cristo (falando para os cristãos, claro). Quantos abriram mão de seus lares confortáveis para se dedicar aos “semelhantes”? Sei da existência das inúmeras missões, ong’s, pastorais, etc e tal, que são formadas por pessoas “desprovidas” deste “apego” aos apelos midiáticos de hoje, mas percebo que, na prática, há tanta hipocrisia! Tanta falsa ideologia!
Percebo isso, por exemplo, no chamado “meio acadêmico” em que muitos “radicais”, enrouquecem suas vozes por discursos que se esvaem com o vento, simplesmente porque estes “radicais” são, na maioria, contraditoriamente ao discurso apregoado “filhinhos de papai” que jamais abririam mão de suas regalias. Assim fica fácil gritar por Justiça e Igualdade!!! (Daí também um dos meus motivos de ser contra a arte dita engajada e panfletária).
Continuando sob a influência do filme, meus pensamentos voaram (sempre voam). Quem são os avatares da humanidade de hoje? Será que nossos ídolos ainda são os mesmos? E o que é pior, por pura falta de opção? Acho que sim. Infelizmente. E não falo num despojamento apenas material, mas de algo que se sobrepõe a tudo isso e une os seres: Amor, palavrinha complicada de se definir, e amor nas diversas manifestações, áreas, campos e espaços.
Em 1988 eu tinha 10 anos e o poeta rebelde Cazuza pedia por uma ideologia. E acho que se tivesse vivo ainda hoje continuaria a lutar por uma, simplesmente porque vivemos num mundo sem ideologias e apenas inúmeros interesses pessoais, e essa carência ideológica entra em choque, constantemente, com nossas ânsias vãs.
Percebo que vivemos como nossos pais, sucumbindo aos padrões, normas, regras... que nos fazem esquecer dos nossos desejos mais íntimos e dos nossos sonhos impossíveis, levando-nos à mediocridade do ordinário.
Imediatamente, ainda no campo cinematográfico, me vem à mente as recentes e marcantes personagens Ennis Del Mar e Jack Twist, do fantástico “Brokeback Mountain”, sucumbindo às convenções sociais e sufocando o que realmente é real: o Amor.
Sei que viver é melhor que sonhar, nem sempre, e que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa, mas uma ideologia sincera não faz mal a ninguém. A verdade é que sempre foi mais fácil esperar que os outros decidam por nós, é mais cômodo caminhar e seguir a canção do que ir contra o vento.
Porém, quero crer que sempre vem vindo no vento cheiro de novas estações.

10 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Por uma incrível coincidência, logo antes de ler o texto, eu assisti a "o Segeredo de Brokeback Mountain", me assustei quando, após ler o filme, vi no texto uma referência a ele.
Quanto às ideologias...Eu cofesso que estou passando por uma grande crise ideológica dentro de mim. Ultimamente tenho questionado minha vida por completo, as coisas que faço, os exemplos que tenho, o rumo que quero tomar para minha vida...e não encontro resposta. Estou vivendo angustiado, buscando alguém ou algo em que me espelhar. Vejo o rumo de meus amigos atuais e antigos, todos passando, indo a algum lugar, e eu continuo na frente de um computador.

1:30 PM  
Anonymous Anônimo disse...

as contradições do mundo...

Concordo contigo, Léo. Somos fracos pq temos necessidade do imediato, do que nos dá prazer à primeira vista.

Temos necessidade de algo além do que o mundo dito material. Isso a gente preenche ora com idéias no campo político, religioso ou profissional. No entanto, percebo que essas "ideologias" têm sido usadas somente como discurso.

O dia-a-dia não nos deixa tempo para colocar os nossos ideais em prática. E se vc tenta arrumar uma forma de parar o tempo, para entender melhor por onde deve seguir, fica meio atordoado e se sentindo ultrapassado.

2:37 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Além disso, fiquei pensando: "por que nossos heróis ainda são os mesmos?"

Acho que, na verdade, nossas ideologias são as mesmas. Não renovamos o estoque... Não as atualizamos.

E não dá pra esperar que apareçam do nada, nem do passado. Acho que nós, que vivemos estes dias, temos que repensar nosso mundo. Ou então vamos viver de saudade (passado) e de sonho (futuro).

PS. Uma pergunta para mim mesma: Será que sou coerente com meus discursos?

2:43 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Ah...
Léo... Eu sou intrometida mesmo, tá? Já que vc mencionou a imagem e não colocou, eu coloquei... hehehehehe

Informações:
São Francisco se Despojando das Vestes – Pintura mural a têmpera - 1945 - Igreja de São Francisco de Assis da Pampulha, Belo Horizonte,MG
Em: http://www.ccs.saude.gov.br/portinari/fotobio

3:04 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Que ideologias que nada, hoje as pessoas só estão preocupadas em seus mais intimos desejos, principalmente buscando no desconhecido mundo virtual pessoas que possam suprir de certa forma estas vontades, mesmo que seja um desconhecido.

4:51 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Jansen, não nos conhecemos, também necessito de uma ajuda para sair de uma grande angustia em que me encontro. Sei que não vai ser em frente a um computador, pois é por causa dele que estou assim. nele só encontramos pessoas que estão apenas buscando falsas amizades ou outros sentidos que não seja o contato verdadeiro. Hoje realmente em quem podemos nos espelhar? Quando encontramos um herói e ficamos seguros, mais logo após vem a queda da máscara e ficamos indefesos.

4:58 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Jânsen, toda crise, seja ideológica, seja existencial, tem como resultado o amadurecimento interior e seu que é exatamente isso que ocorre contigo.

Sílvia, eu havia colocado a foto. Mas não entrou, não sei porque. Foi ótima a tua iniciativa.

Quanto a ser ou não coerente com nossas ideologias... acho que dificilmente somos e sempre haverá uma desculpa para isso.
Digo desculpa porque quero realmente crer que o ser humano pode e deve ser feliz.

Acredito que um primeiro passo, é não confundir as coisas... apesa de tamanha mistura, o virtual é e sempre será virtual, já o real...

5:12 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Convenções sociais. Luto contra algumas, defendo outras. O mundo que imagino não bateria com o mundo que há hoje, nem com o de ninguém.
Não acho que haverá soluções para todos os problemas que vão de encontro às convenções sociais. Não haverá um mundo em que todos serão felizes e aceitarão as atitudes dos outros. Acho que sempre haverá luta, é a única forma de se transformar as ditas convenções, acrescentando algumas coisas, retirando outras.
Sempre haverá luta e insatisfação.

6:32 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Silvia, quanto a coerência, não se policie tanto (isso digo a você como se dissesse a mim mesmo). Vez por outra nos contradizemos e quando isso acontece, não devemos ficar tristes por nosso raciocínio nos pregar esta peça (e que peça!); resta-nos apenas a seguinte saída: fazer cara de babaca e dizer "puxa, é mesmo!"
Lembre-se de nosso blog: transitamos por idéias...

9:57 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Fazendo um link com a crônica (é esse o nome???) anterior do Jansen sobre o Superman, lembro que no filme uma personagem ganha um prêmio por uma matéria que tem por título "Porque não precisamos do Superman".
Daí lembrei dos versos de uma canção tema de outro filme, cantada pela Tina Tunner:
...AND I WONDER WHEN WE ARE EVER GOING TO CHANGE?
LIVING UNDER THE FEAR TILL NOTHIN' ELSE REMAINS
WE DON'T NEED ANOTHER HERO...
(tradução livre: E eu me pergunto quando algum dia nós vamos mudar?
Vivendo sob o medo até nada mais restar
Nós não precisamos de outro herói)
Daí fico pensando: precisamos mesmo de heróis, que sejam exemplos de retidão moral e reputações ilibadas? Nossa formação foi tão desqualificada que não conseguiu incorporar ao nosso caráter uma ponta que seja de ética e bons costumes? Somos só mesmo um povo que vive atrás do último golpe, da próxima esperteza, do melhor jeito "pra se dar bem"?
E fico me perguntando se sempre foi necessária uma ideologia pra se viver. Ou se isso não foi só uma "necessidade" criada pelos burgueses pra tentar dar algum sentido a vidas medíocres, vazias e burras. Provavelmente essa "necessidade" é mais um fruto da Revolução Francesa. E aproveitando o lugar me lembro de Voltaire dizendo: "Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o fim o teu direito de dizê-las."
Acho que é disso que precisamos: democracia e tolerância. Não quero idéias prontas, não quero modelos, não formas. Prefiro discutir diferenças, idéias, e tudo que possa expressar a grande riqueza da diversidade humana.
Prefiro liberdade.

1:48 AM  

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