TRANSITAR

trans-bordar trans-ar trans-cender trans-pirar trans-fixar trans-formar trans-por trans-gredir trans-lucidez trans-mudar trans-ferir trans-luzir trans-mutar trans-viar trans-tornar

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Local: Paraíba/Rio de Janeiro, Brazil

terça-feira, junho 06, 2006

PENSANDO NA MORTE DA BEZERRA

Não tenho pretensões de defender teses nem de embasar esta afirmação em fundamentos teóricos. Não. Na verdade, parto de constatações e opiniões puramente superficiais. Seria necessário tempo para afirmar ou negar com veemência o que aqui digo – e pode ser que alguém até já tenha feito algum estudo sobre isso tudo e venha aqui me chamar de imbecil!
Quero falar a respeito das fôrmas literárias Romance e Poema.
Vou ser categórico – assim dará margem a mais discussões: o Romance está morrendo, assim como o Poema. Mas, no vazio deixado por eles, estão entrando, respectivamente, o Cinema (o filme: longa metragem – isto para ser mais específico) e a Música.
Talvez estas duas fôrmas literárias estejam morrendo justamente por causa do cinema e da música, ou estes sejam a evolução daqueles. Sei lá. Mas há algo como que abandono sistemático do público. Talvez esse abandono seja a causa dos tempos pós-modernos. Sabe-se que hoje se exige muito das pessoas, e o dia de 24 horas já é pouco. Isso causa o fator da economia. Digerir informação com a maior velocidade possível. Para não adentrar na questão do custo-benefício. Deixa eu parar por aqui.
O cinema faz isso, nos proporciona a rápida deglutição do produto, pois são duas horas e pronto – além de ser uma prática social, o que agrega mais valor ao produto. Sem contar que um filme é recheado de canais por onde a informação nos adentra: movimento, cores, formas, sons (música), textos (alem do texto, o material sonoro das interpretações dos atores, recheado de informações). Simultaneamente: ainda mais desta maneira. Poupa o tempo dos ‘leitores’ toda essa carga informativa de além-texto, completando as lacunas que, no romance, são preenchidas por nossa imaginação.
E o que diria da música? Vamos ser mais específico – sendo genérico: música popular, dessas das rádios...ou dos cd’s... Tem um texto poético, que ouvimos enquanto fazemos outra coisa (arrumando-se para sair, conversando com alguém, pensando na morte da bezerra, etc). Alguém o está recitando pra nós. Além de recitá-lo, ainda joga informação na linha melódica e harmônica. E mais: você pode ouvi-lo não sei quantas vezes, assim dá mais tempo para analisá-lo.
Verdade ou não? Constatação. Bom ou ruim? Não sei! Pergunte para as pessoas quantos romances leram durante os últimos meses, ou quantos poemas. Agora pergunte quantos filmes ou quantas músicas? Perderão a conta, pode ter certeza.

11 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Não sei de quem é o post, mas vou comentar assim mesmo...

Bom, a questão está na necessidade de informações rápidas, no movimento alucinante que esse nosso tempo de ciberespaço exige...

Como tudo no mundo, temos vantagens e desvantagens. As vantagens estão em que nada mais é escondido. Quer ler o mundo? Ele está inteiro ao alcance de qualquer um, com palavras, cores, formas.

O problema é que, em alguns aspectos, esse mundo já vem lido, debatido, discutido por milhões de outras pessoas. Até que se tenha lido tudo que se falou a respeito de algum assunto, a vida já passou, a imaginação já foi... E a gente se vê obrigado a pensar por citações (segundo fulano, mil novecentos e bolinhas...), a tomar pra si idéias dos outros, como se não fôssemos capazes de ter idéias próprias.

Pensando sobre o Romance/filmes, poemas/música, o maior problema é que, depois de ouvir outra interpretação, fica difícil dar outra vida aos textos. Ou será que alguém consegue ler um livro depois de ver o filme referente sem pensar nos atores? Ou ler um poema que foi musicado sem lembrar da música (seja ela boa ou ruim... aliás, acho que é mais fácil que grude qdo é ruim...).

Acho que era isso.

Se surgirem mais idéias, faço outro post...

11:29 PM  
Blogger trio eletro-sol disse...

Leonardo disse...
Concordo com o Jansen, em partes, pois não percebo essa “morte” do romance, nem da poesia, com pesar conclui que Arte e Cultura são pra poucos. Entendo todo o discurso do Antonio Candido sobre literatura e subdesenvolvimento, mas nivelar a arte ao público é, antes de qualquer coisa, subestimar este público, além de suprimir uma função fundamental do artista que é de ser “antena da raça” e fazer a língua progredir.
A indústria cinematográfica e musical tem uma penetração, realmente, muito maior, pois tem um público maior. No entanto, essa dita “linguagem mais rápida” do cinema, por exemplo, atende a públicos diversos: há aquele que apenas se deixa envolver pela história (chora e ri); há aquele que apenas vê estética e montagem; há aquele outro; e mais aquele... Então o problema não está na expressão da arte em si, mas sim no público que a recebe.
No contexto atual, em que temos muita informação e pouquíssima formação, tudo se pulveriza impulsionando os “escolhidos”.
Quanto à música há os artistas que, percebendo – talvez – essa aceitação maior do gênero musical, tentam usar isso unindo poesia e música, como é o caso de Caetano Veloso. No mundo do reality show, visão e audição são estimulados, não temos tempo de parar para ler um romance, mais um conto sim! hehe
Enfim, sou saudosista: gosto de palavras e de vê-las distribuídas no papel, mais também na tela do micro. Isso me dá prazer! Acredito que o romance, a poesia, a canção, ou a arte em si não morreu nem morrerá, mudar-se-ão as expressões, mas e o público?
Xiiiiii! fiz várias citações, mais quais são as palavras que nunca são ditas? Deixem que digam, que pensem que falem!
Em tempo, muitos cancionistas discutem a “morte da canção” com o crescimento “alarmante” do rap.

11:47 AM  
Anonymous Anônimo disse...

" (...) função fundamental do artista que é de ser “antena da raça” e fazer a língua progredir. (...)"

Comentando o comentário...

Bom... pra quem diz que o artista não tem que cumprir nenhuma função social, Léo, esse teu comentário fica meio estranho... hehehehehe

Essa questão de que o artista atua como "antena da raça", ou seja, como um guia/bússola da sociedade e faz a língua progredir, sinceramente, eu não concordo.

Primeiramente, melhor do que qualquer um que se dedique a "criar" novas formas de usar a língua(gem), quem a faz "progredir" é o povo (alguma coisa da sociolingüística tinha que ficar em minha vida... hehehe).

O artista, por mais que crie para si um "novo mundo", parte do que já existe para reler, interpretar, dar novas cores... Ninguém pode negar a importância da própria sociedade em que vive para sua criação artística (de negação, de afirmação, ou de reelaboração, mas sempre tem um ponto que parte da sociedade).

Outra coisa é esse ponto de que são "antenas da raça"... em uma sociedade onde existam tantas questões brabas de ordem social para resolver, não sei exatamente que tipos de atividades um artista teria que desenvolver para que se torne um guia para os demais membros da comunidade...
Pra mim, as "antenas da raça" tem um outro tipo de talante, diferente do que os artistas que conhecemos apresentam. E não venha me dizer que Caetano é representativo da sociedade brasileira... (em tempo: gosto muito da produção de Caetano, mas não acho que a arte que ele produz seja representiva do povo brasileiro...)

10:52 PM  
Anonymous Anônimo disse...

pra botar lenha na fogueira...

"pound, eu não sou
nenhuma antena.

eu sou a pane
e a interferência
dos meus fantasmas

no tubo de imagens dos poemas"

(Sérgio de Castro Pinto)

“antena da raça” para Pound não é ser guia/bússola/orientador.Isso é função de político, sociólogo, metalúrgico...
mas, como se fosse um sistema de alarme premonitório,o artista é capaz de entender o mundo a qual ele está inserido.Indicando, antecipadamente, os futuros desenvolvimentos sociológicos, psíquicos e técnicos que o próprio povo vai desenvolver

-para ser alarme, o artista ouve e
para ouvir, ele é sensível ao seu mundo (interior-exterior).
Seja para desenvolver ou criar uma nova linguagem/processo.

Creio que alguns artistas são antenas, outros, mais que antenas, são, satélites.
Existe os que interferem profundamente e também os que são apenas fantasmas de outros tempos, teimando em tubos de TV preto e branco de imagens diluídas!

e todos somos humanos


inté
Roncalli

2:22 AM  
Anonymous Anônimo disse...

A "Antena da raça" capta toda a angústia, prazer, dor e delícia de um povo transcriando e traduzindo isso em Arte. é nesse sentido que uso a expressão de Pound. não temos que segui-la, mas ela os faz, naturalmente, ou será que ao escrever "Grande Sertão Veredas" Guimarães não captou as "questões brabas" que ele observava? quanto a "função", certamente não acredito que haja uma para a arte, numa sociedade em que ainda seguimos os preceitos deixados, em certo ponto, por Platão em sua "República". hoje temos o mercado que só visa o dinheiro, enfim... e daí talvez a falta do texto literário em sala de aula e consequentemente a "morte da bezerra" hehehehe, além de quando há o texto o professor, personagem fundamental nisso tudo, não sabe o que fazer com ele.
Quando ao Caetano, bem acho que ele merece um debate a parte, só dele, único, como ele. hehehehehehehehe
em tempo: o que é ser representante do povo brasileiro?

7:33 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Para que não fique um mal-entendido: quando quis dizer em MORTE, não me referi a morte da arte, nem da poesia. Quis dizer "a morte de uma fôrma literária" - é que na verdade morte é um termo bastante pesado. Algo assim como o que aconteceu à Epopéia. Talvez se usasse o termo transição teria sido menos impactante.
Julgo que a sociedade, sim, exerce pressão nas fôrmas de arte. A aceitação do público - e aí ponho no balaio a "canalha", a "gentalha" e ou poucos iniciados - tem papel fundamental na produção artística. O COMO ou o TANTO que estas parcelas exercem de influência, para mim, depende de uma enormidade de variáveis que tudo o que se disser não passará de especulação.
Será que Caetano seria o que é se a música não fosse um veículo de ampla divulgação como é hoje? Assim como o cinema: estaria ele tão desenvolvido como está se não tivesse essa capacidade de divulgação que tem hoje?
Quanto às antenas; hehe, acho que o artista é antena no sentido de captar coisas que a maioria não capta. Ou por que consegue enxergar adiante. Talvez o termo "antena" pudesse ser substituído por "telescópio da raça"; ou, talvez até, "micróscópio da raça". Ah, sei lá!

8:13 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Bom...

Eu não sabia, ou não lembrava, que "antena da raça" era uma expressão de Pound, nem o significado que ela tinha. Afinal de contas, eu sou a única não-estudiosa da literatura que anda circulando por essas bandas daqui. Se é esse o significado que ele dá a essa expressão, então concordamos, em parte...

Pra mim, a palavra "raça" se refere muito a estudos sobre sociedade, e por isso a confusão. Captar uma "raça" soa muito estranho pra mim. Aliás, o que pode ser entendido como raça?

Mas, de qualquer modo, fico um pouco intrigada com essa coisa de que o artista é o "ser iluminado" que capta a sensibilidade...
A sensibilidade é uma característica humana, e qualquer um é capaz de ativá-la, se tiver a chance de fazê-lo. Pra mim, ser "artista" não faz de ninguém nada de especial.
A grande questão que ninguém percebe, pelo menos nos "caderno 2" dos jornais, é que essa sensibilidade anda adormecida por questões de ordem educacional (e aí temos uma discussão de ordem político-social muito fortes) e outra por culpa dos próprios produtores da arte, por seu comportamento egocêntrico e ausente do resto do mundo.
Acho que o conceito do que é Arte (e cultura), partindo do que diz Pound, pode ser imensamente ampliado e incluir pessoas de outras áreas, e não somente de cinema, música, literatura, teatro, fotografia e outros... Chomsky poderia ser considerado um "artista" do pensamento sobre a linguagem, Buda um "artista" com relação à espiritualidade, e aí vai.

Por fim, só mais uma coisa, e ainda do primeiro comentário de Léo. Mesmo não produzindo nada que o senso comum denomina arte (poesia, cinema, fotografia, dança... blá blá blá...) e por não entender 1500% do que se produz por aí, não me sinto uma pessoa sem cultura ("com pesar conclui que Arte e Cultura são pra poucos"). Léo, me explica o que vc entende por cultura... Cultura e Arte são uma mesma coisa?

2:57 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Sobre o comentário de Jânsen...

Concordo contigo quando vc diz que o movimento é de transição. Na verdade, Jânsen, as manifestações humanas (sociais ou artísticas) não são refeitas ou reiniciadas. Assim como a vida. Tudo passa pelo continuo que é a história.
Acho que tem alguma coisa a ver com aquele papo de antropofagia. O mundo inteiro, e não só o brasileiro, se retroalimenta do que vem de outros tempos (lugares?) e de sua própria produção para seguir existindo. Taí a essência do transitar.

Mas deixo aqui uma pergunta pra vc: o que vc entende por produção artística? ;)

3:18 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Eita o negócio tá pegando fogo!
heheh
é isso mesmo, este é o propórsito.
Definitivamente, depois que Duchamp levou um mictório para o museu, ficou claro que não há "iluminados", mas pessoas que trans-piram para fazer arte. Arte é resultado de muito trabalho, é "catar feijão", como disse João Cabral, eita tô eu aqui citando de novo. hehehe
mas isso é antropofagia, ou não?
Definir arte e cultura é tarefa dificílima, haja vista tudo o que já foi dito aqui. Quando disse "que arte é para poucos" quis apenas apontar que, nem todos lêem poesia, ou mesmo assiste a um filme com olhos críticos. Por isso minha preocupação com o Público e não com a arte. Que público temos hoje? vários, acredito que isso está claro, e para cada público há uma "arte" sendo feito. é a demanda e procura do capitalismo.
Sejamos imperialistas!!!

8:39 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Como sempre, Silvia tem uma imensa facilidade de questionar as coisas, mas não só isso; ela acerta o alvo, toca nas questões nas quais, de fato, mora o perigo.
eu diria que cultura e arte são os conceitos mais amplos do mundo - vou exagerar, lógico que tem outros tão quanto. Pode-se dizer que arte é tudo, e cultura é tudo. Viver é arte (saber como); vida também é cultura (acúmulo de experiências).
Por isso tudo, concordo quando Silvia questiona o fato de o artista ser "um ser iluminado". Na verdade, o é, mas como toda e qualquer pessoa, todo mundo é capaz, sim, de ter um momento contemplação artística e até de produção artística. Mas nem todas as pessoas assim o fazem.
As que fazem, são as consideradas artístas. Estas se dispõem de um arsenal técnico capaz de potencializar a informação artística a ser transmitida, no mais elevado grau, ou não.
Agora, quando você diz que Chomsky pode ser considerado "um artista do pensamento sobre a linguagem", concordo, porém, se estendermos o conceito de arte para a amplitude da vida. Aí, nesse caso, posso até considerar alguém que vive numa favela do Rio de Janeiro como um artista, por conseguir sobreviver a cada dia. E pode ser sim, se estendermos o conceito de arte de forma mais ampla.

3:23 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Cultura seria, a priore, um patrimônio construído ao logo do tempo, um conhecimento sobre algo que torna-se característica de um povo, de uma personalidade...
Arte, putz! continuo não vendo funcionalidade para ela hoje. Há arte pra todo tipo de público. Mas toda essa arte vendida hoje é mesmo Arte? Claro que existe a arte datada, aquela que tem tempo certo para sair de circulação e de consumo. Mas penso que há uma arte que permanece, mesmo tendo características do seu contexto de produção. A esta chamo Arte! e a esta, poucos - não escolhidos, mas atentos - tem acesso e consciência de sua existência.

11:58 AM  

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