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sexta-feira, outubro 27, 2006

O tempo não pára...


Esta semana eu vi a cara da morte e, como acertadamente disse o poeta, ela estava viva – olhos arreganhados pra mim, vindo na forma de um infarto fulminante para alguém muito importante. Alguém que foi dormir feliz, segundo a família, e não acordou mais neste plano da vida.
Eu já havia “perdido” importantes pessoas (avós / avôs / tia / amigos...), mas nunca alguém com quem tivesse tanta intimidade, por isso a dor tão grande. Falo da intimidade de dividir cama e leito, coisas diferentes mas que, contemporaneamente, com o sexo vivido apenas com a cabeça de baixo, parecem não fazer mas sentido. Talvez eu viva mesmo no “tempo da delicadeza”, como afirma meu parceiro.
No momento exato da notícia pensei que fosse morrer junto, eu quis isso. Não achei justo, me senti culpado e inútil, seja pela distância física entre nós, seja porque quem decidiu por uma separação, quando ela ocorreu, tivesse sido eu. Depois de muito chorar e sentindo a força do amor dos amigos, me refugiei na casa de um amigo-irmão. Lá senti, entre outras coisas, que cada um faz as escolhas dentro do livre arbítrio que Deus nos dá ao nascer. Isto, dito agora, assim, pode parecer frio, mas preciso e tenho tentado viver meu “luto” de forma a emitir para ele toda energia positiva que ele precisa, neste momento, sem pessimismo, fazendo assim sua transição entre os dois planos.
Mas foi exatamente no fim da tarde, quando deixei a casa acolhedora do meu amigo, que comecei a observar o mundo ao meu redor. O ônibus lotado, pessoas saindo do trabalho, outras indo para a escola... Percebi alí que o tempo não pára, a vida é fria e crua, pois, enquanto minhas lágrimas rolavam, as pessoas sorriam e seguiam em frente. Tive raiva! Meu egoísmo esperava que todo o mundo sentisse a minha dor. Mas entendi também que não é assim que a máquina do mundo funciona, Deus criou o homem para dar sentido às suas outras criações. É uma pena nós não entendermos isso e vivermos “de qualquer jeito”. Precisamos parar de perder tempo tentando provar para os outros o que somos, ou o que é pior, o que não somos.
De mim, não esqueço de minha mãe abraçada comigo e dizendo “tenha força, eu preciso de você”, não sabe ela o quanto eu preciso dela também! Aquilo, de uma certa forma, (re)significou nossos laços. Ela tem velado meu sono; meu irmão, depois de chorar escondido (eu vi) tem feito de tudo também. Agora entendo porque voltei a morar com eles, eu, conhecendo-me como conheço, não suportaria que isso acontecesse ao meu lado, sim, pois isso iria ocorrer a qualquer momento, pois ele já vinha doente.
Enfim, por mais que eu escreva aqui, jamais as palavras abrangerão todo o sentimento. Como disse outro poeta, "eu morro ontem / nasço amanhã" e eu preciso aprender a (re)significar meus sentimentos. Estou tentando e vou conseguir, preciso conseguir pois o tempo não pára...

PS: Sílvia, sei que os blogs são públicos, e entendi sua discrição, mas eu não poderia deixar isso passar em branco. Branco será apenas o símbolo da paz que sempre desejei e desejarei pra ele.

8 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Sem comentários...
Só renovo o meu abraço para vc, Léo...

11:07 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Léo, eu creio muito nesse Deus que nos ama e que enviou seu filho para morrer por nós. A pessoa que falou sobre escolhas está com toda razão. Nossa vida é feita delas, é delineada e pintada por elas, só que às vezes a gente esquece disso e termina culpando Deus. Bom, vc não tem culpa de nada, a nossa hora chega e não tem essa,a morte não espera a gente se despedir. Independente de qualquer coisa ,ele teria que morrer neste dia, era a hora dele. O mundo realmente não pára para gente catar os nossos pedaços, mas Deus oferece seu amor infinito e o consolo do Espírito Santo ao coração de quem fica. Vc é excepcional, fantástico, um cara cheio de luz, amigo.. gente boa mesmo! Qualquer coisa que precisar pode contar comigo, eu sei que a gente não é muito próximo, mas gostaria muito de poder te ajudar. Deus te abençoe, e te guie segundo a vontade dele, derramando infinitas "graças divinas" na tua vida.
Tou orando por vc...
Sempre torço por vc.
Um beijão.

11:39 AM  
Blogger Per abat disse...

ola...

11:55 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Leo, quero dizer apenas que vc é um grande amigo. Estamos todos emitindo luz e energia positiva para vcs, pois vc tb precisa dela... gosto muito de vc... axé, meu irmão!

1:17 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Em momentos assim, é difícil dizer qualquer coisa. Todos nós já passamos ou vamos passar por momentos como estes, só nos resta aceitá-los, resignados. Siga em frente, Deus dá força.
Abraço!

2:30 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Oi, não sou bom em escrever sobre estes “eventos” da VIDA, porém ao ler o seu blog, veio a memória uma música que gosto muito, que em certa medida tem algo para este seu momento, ou para lembrar o que de bom passou:

Sonho
Madredeus
Composição: Madredeus
Quem contar
um sonho que sonhou
não conta tudo o que encontrou
Contar um sonho é proibido

Eu sonhei
um sonho com amor
e uma janela e uma flor
uma fonte de água e o meu amigo
E não havia mais nada...
só nós, a luz, e mais nada...
Ali morou o amor

Amor,
Amor que trago em segredo
num sonho que não vou contar
e cada dia é mais sentido

Amor,
eu tenho amor bem escondido
num sonho que não sei contar
e guardarei sempre comigo

Força,
bj
Marcos

10:45 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Leo, conte comigo( acho que é até desnecessário falar isso). Acho que a vida dá baques na gente pra gente perceber como ela é preciosa. Viver, viver e viver apesar de. Você é uma das pessoas mais sensíveis que já encontrei por esses recônditos.Fique bem. Acho que morte é quando a gente dorme, sei lá! E se a morte for só um sonho? Te desejo o bom. Beijos de quem te admira. Renálide

8:57 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Lendo esse pequeno artigo, vi que tudo o que penso e gostaria de falar a respeito do tema estava expresso nele. Daí resolvi reproduzi-lo aqui pois é muito interessante:

"Somos seres finitos. Mas, finitos em quê? Será que a morte é o nosso ünico fim? Será que só percebemos a finitude guardo um parente ou amigo próximo morre? Não. É certo que a finitude nos ronda em qualquer ato que possamos realizar. Somos seres finitos a cada segundo em nossas vidas. Se pensarmos na finitude em um sentido amplo, ela significa toda nossa limitação e fragilidade. E em um sentido restrito ela seria pré-condição de nossa liberdade de escolha.
Cada escolha dá fim a outras tantas, e isto nos angustia. Cada projeto que faço põe fim a tantos outros, pois as possibilidades são infinitas. Isso é uma tremenda crueldade: a escolha é finita e as possibilidades de escolhas são infinitas. Ora, temos que há todo momento pensar se fizemos a melhor escolha em detrimento (fim) de tantas outras. Para cada escolha há infinitas outras que não escolhemos. Isto é muita responsabilidade! (...)
A morte é um aviso do que há fim implícito em tudo que fazemos. E isto não deve ser entendido com uma visão pessimista, mas sim com uma visão otimizada de cada escolha que estaremos por fazer. A morte, segundo Heideger, se repete em cada situação de escolha. Para ele, assumir a morte como possibilidade presente a cada instante, é o mais responsável passo na busca de uma existência autêntica e criativa. Mais do que finitos, somos livres para escolher, com toda angústia inerente a esse processo. Quando escolhemos de forma consciente do que estamos perdendo e ganhando e para quê estamos escolhendo, somos sujeitos de nossa existência. E, então poderemos morrer e deixar morrer, dizendo que foram feitas as melhores escolhas até aquele momento".

Psicóloga Flávia Machado
Psicoterapeuta

11:02 AM  

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